26 de julho de 2002

ALMAS APAIXONADAS

" Algumas pesquisas apontam que a paixão dura três anos, onze meses e nove dias. Outras garantem que sobrevive apenas o tempo suficiente para a fêmea ser acasalada pelo macho. Outras defendem que é um simples hiato de euforia que antecede ao inevitável reaparecimento da razão, da lucidez e do tédio, esse grande vilão. Muitas duvidam da existência de algum apaixonado que tenha resistido à vigésima primeira chateção. Seja qual for o argumento, todos os especialistas concordam: a paixão sempre acaba. Eu discordo.

Apesar de já ter feito produção, sonoplastia, e iluminação (no século passado), e até ter me arriscado num texto teatral, não tenho a pretensão de me considerar uma pessoa de teatro. Mas conheço muitas delas. "Fazer teatro" é um dos desafios mais difíceis que existem. O que me espanta não é o talento. Nem a competência. Nem o profissionalismo.

É essa espécie de teimosia que nasce com ela quem é muito apaixonado ou muito louco, ou apaixonado e louco, se é que um adjetivo pode sobreviver sem o outro.

Já vi muitas altas de dólar, lei essa, lei aquela, patrocínio assim e patrocínio nenhum, peças que fizeram sucesso, outras que não. Vi atores sem grana, produtores desesperados, diretores sem saída, técnicos sem trabalho. Vi também o contrário. Vi o provável. Vi o inesperado. E sempre que pensava "agora esta provado que ficou impossível", algum louco-apaixonado recomeçava tudo em alguma parte.

Fica uma sugestão: talvez os psicólogos, sociólogos, neurologistas, sexólogos e pessimistas tenham esquecido de estudar mais detalhadamente esse pessoal que faz teatro.

Quem sabe não esta aí o segredo da paixão eterna e o mundo continua perdido, procurando a resposta no lugar errado?"

(Adriana Falcão - Aplauso)