Quanto procura se
apropriar de questões relativas à contemporaneidade cênica a partir de seu
legado por
intermédio de
seus escritos e dos documentos que
registram sua prática teatral, pode-se reconhecer em Antonin Artaud (1896-1948), um deslocamento de foco nas reflexões sobre o teatro, um deslocamento que será determinante para o
desenvolvimento dessa forma de arte no século xx.
Podemos pensar que, por inicio, o primeiro reformadores do trabalho do ator, a começar por Constantin Stanislávski (1863-1938) nos oito últimos anos de sua vida, a segunda fase de suas pesquisas - a mais importante de sua obra, por ser abrangente e conclusiva - desenvolveu seu método, o Sistema das Ações Físicas.
Podemos pensar que, por inicio, o primeiro reformadores do trabalho do ator, a começar por Constantin Stanislávski (1863-1938) nos oito últimos anos de sua vida, a segunda fase de suas pesquisas - a mais importante de sua obra, por ser abrangente e conclusiva - desenvolveu seu método, o Sistema das Ações Físicas.
Antes desta sistematização o ator ocidental aprendia na
imitação do mestre (um ator mais velho que transmitia ao aluno-ator os passos,
os textos e formas pré-concebidas etapa por etapa). Já neste sistema o diretor russo subordina a técnica e a
criatividade, não mais à psicologia, como na fase anterior, mas à expressão
física - vivência - das ações.
O primeiro passo para estabelecer um processo criativo
orgânico passou a ser a relação física do ator com os objetos e pessoas que
estão à volta e que são a base de suas sensações. Stanislávski dá ao ator o status
de criador cênico. Não mais mero reprodutor das ideias do diretor. Faz do teatro um
processo onde autor, diretor e atores promovem uma unidade de criação cênica,
tendo-o como fruto de experimentação prática e contínua, onde os sentimentos
interiores e exteriores do ator correm de acordo com as metas fixadas para
eles, e não há absolutamente nenhuma coerção ou desvio de norma, nenhum clichê
ou qualquer espécie de atuação convencional. Bastante apropriado para o ator
que quer romper com formas antigas e buscar uma autonomia na sua composição. Porém
o sistematizador russo partia do texto como pontapé inicial de sua criação e
por conseqüência do processo que seu sistema sugeria ao ator. Ao passo que
Artaud irá questionar esse “pré-conceito” ao transcorrer sobre um dos Duplos do
Teatro, a Metafísica;
“Como
é que o
teatro
ocidental (digo ocidental
porque felizmente há
outros,
como o teatro
oriental, que
souberam
conservar intacta a idéia de teatro,
ao passo que no ocidente
esta idéia - corno todo o resto - se prostituiu),
como é que o
teatro ocidental
não enxerga o
teatro sob
um outro aspecto que não
o do teatro dialogado?
“
Contrário à imposição da palavra como única matriz
geradora
do espetáculo, o artista francês coloca em evidência a importância dos outros elementos presentes na encenação para o alargamento das possibilidades de significação do teatro: o ator, com seu corpo e sua voz; a
iluminação; as sonoridades da música e da palavra; o figurino; e o espaço. Sobre outro Duplo,
a Peste, mostra o quanto essa junção caótica:
“ Uma verdadeira peça de teatro perturba o repouso dos sentidos, libera o inconsciente comprimido, leva a uma espécie de revolta virtual e que aliás só poderá assumir todo o seu valor se permanecer virtual, impõe às coletividades reunidas uma
atitude heróica e difícil.”
Nesta dificuldade e heroísmo próprio dos mitos, podemos
dizer que Artaud buscou, assim como Wagner,
um "teatro total". Porém, as concepções diferenciam-se em seus fundamentos. Na Gesamtkunsterk wagneriana, todos os elementos do espetáculo deveriam estar a serviço da "arte maior": a música.
Artaud, por sua vez, influenciado pelas estéticas teatrais orientais, apesar de reconhecer na música princípios fundamentais para a estruturação do gesto e da palavra, não estabelece uma hierarquia entre os meios de expressão utilizáveis em cena.
No que diz respeito, portanto, à ação física, o artista francês contribui para o seu desenvolvimento enquanto conceito, à medida que utiliza como "matrizes geradoras" de ações, os diferentes "duplos" do teatro como a metafísica e a peste.
Para Artaud, a experiência teatral deve ir além do exercício puramente intelectual. Através de suas elaborações teóricas e de sua prática, o teatro volta-se, assim como já ocorrido com as outras formas de arte, para o específico de suas possibilidades expressivas, as quais, antes de contar uma história, devem agir sobre os sentidos.
Em
resumo as matrizes geradoras das ações físicas se descolam do textocentrismo com Artaud, pois no seu
teatro e conseqüentemente nas ações executadas pelos atores, ele se utiliza dos
“duplos” como a metafísica e a peste para tornar-las signos.
* Chamo de Sistema de Ações Físicas já que Stanislávski não criou um Método, nunca chamou
de método e sim de um sistema. Ele não deixou um ‘como fazer’ passo a passo. A
única forma de passar pelo Método das Ações Físicas seria através do próprio
Stanislávski, em pessoa. Além disso, tantos seguidores do diretor chamaram o
que interpretam como seu sistema como “Método”, como, por exemplo, os criadores
do Actor Studio norte-americano. Portanto,
para propósito deste texto, utilizei terminologia Sistema das
Ações Físicas.