11 de novembro de 2003

Um dia você está andando na rua, se sentindo terrível por gostar tanto do que faz e perceber que não consegue fazer outra coisa e somente ser o que você é lhe motiva mas estar desempregado, sem trabalho próximo e na semana seguinte você recebe convites pra encenar dois infantis na mesma época.

Não acho que eu seja especial por ser ator, mas tenho a nítida impressão que esse tipo de vida não é pra qualquer um mesmo. Essa angustia de você andar com 3 reais na carteira e ter coisas pagas pelos amigos, e na semana seguinte ouvir uma pessoa te chamando pra trabalhar e perder trinta minutos (ta, eu contei vinte e sete , mas posso arredondar) elogiando seu profissionalismo e o quanto foi bom ter trabalhado com você e que ele só está lhe chamando agora pra trabalhar de novo porque só agora ele vai ter o dinheiro pra pagar o quanto ele acha que vale o seu trabalho....

Hoje eu passei por maus bocados. A conta do meu celular furtado chegou e eu passei 57 minutos no Oi Atende enquanto a atendente abria minha contestação dos 785 reais que o fraudador/ladrão gastou em meu nome com meu aparelho furtado. Hoje eu me assustei com o fato deu pensar em querer uma vida melhor sendo o artista fudido que sou. E a merda de tudo é que hoje eu me toquei que eu ainda acredito.

Eu vejo amigos de profissão que trabalham, outros que desistiram, outros que foram “desistidos” e outros saíram ou voltaram ao anonimato ou ao estrelato...

Eu hoje sei que tenho mais deveres e responsabilidades que antes, que se antes eu andava sozinho, agora eu tenho uma pessoa. De verdade. E eu quero estar bem com essa pessoa. Quero que essa pessoa sinta em mim metade da fé que eu tenho no meu trabalho. Sinta que eu posso pensar em algo pro futuro. Mesmo que a gente esteja em delírios de paixão, mas que ela saiba que eu sou capaz. E ao mesmo tempo sinto um pavor incrível em decepciona-la, em ser aquele cara que vive na inércia e não parece querer mudar (apesar de já ter mudado tanto e o tempo todo).

Covarde eu não sou, mas claro, tenho instinto de autopreservação, e quando vivemos, caminhamos para a morte. É inevitável. A cada dia que um amigo ou parente meu aparece com uma doença vejo que eu não sou mais o cara Hermeticamente Indestrutível que eu achava que era. Toda vez que um amigo meu manda currículo ou diz que está procurando um novo trabalho eu penso que minha jornada é única porem é similar a tantas outras e o quanto eu tenho sorte em muitos aspectos e o quanto eu sofro sem nem me dar conta que isso me corroi por dentro em outros. Que eu me sensibilizo demais com coisas que outras pessoas nem se quer dão importância, que eu me preocupo com o que as pessoas vão achar de meus feitos e pior, que eu sei que sempre ajo para obter o aval delas... Não por necessidade de afirmação mas porque é isso que me trás felicidade. E que tanta gente tem medo do que gosta e eu , por outro lado, encaro com a maior tranqüilidade e fé o lance de fazer o que gosto, de viver intensamente , cada segundo, esse estase que é minha breve passagem pelo universo, esse finito suspiro do cosmos que é minha existência. E fazer dela um delicioso suspiro.

Mas, se eu agora estou envolvido com outra pessoa e posso compartilhar isso com ela, será querer demais arranjar alguma estabilidade e conforto ? Afinal, relacionamento é assim. Dividir, permutar, remodelar , conseguir e ceder. E se tem amor flui tanto....

Acho que eu to re-aprendendo a viver junto. É estranho, mas vale muito a pena....Muito!