Tenho a impressão que todos nós achamos que somos bons
sujeitos. Entretanto, sou obrigado a reconhecer que tenho muita facilidade de despertar
antipatias por mil e um motivos. Hoje quero falar de um apenas: Meu olhar.
Olho para as pessoas intensivamente, sejam amigos, conhecidos
ou meros passantes, hábito que muitos me apontam como péssimo, desagradável e
invasor. Não consigo evitar, me
interesso por qualquer um que passe pelo meu caminho, não consigo fingir que
estou num bar apenas com as pessoas da minha mesa, que as pessoas do elevador
não existem que a pessoa que me presta um serviço é invisível, que a pessoa que
passa do meu lado num corredor, rua, festa, museu, escritório ou qualquer lugar
está em outra realidade.
Às vezes nem percebo que estou olhando, coletando gestos,
identificando humores, vendo diferenças fisionômicas, de tão fascinado que sou
com a diversidade humana. Outro dia mesmo, me disseram que um alguém ainda pode
me dar um soco na cara por isso. Talvez seja bom eu ser esse cara grande,
largo, com rosto interessado e por vezes simpático e outras tantas sorridente.
Talvez isso me proteja da hostilidade de uma reação da minha invasão de
privacidade, do meu hábito voyeur do
ser humano. Não sei. Não entendo completamente. Tem alguma coisa dentro de mim
que não cabe debaixo da minha pele. Essa necessidade de viver vidas, de
experimentar tudo, de fazer da minha passagem por esse plano uma aventura sem
fim, até que, por forças fora do meu controle, ela finde. O fim da vida de um
idiota que ama demais as pessoas, incondicionalmente.
Então a partir de hoje eu quero pedir desculpas a todos aqueles
que de alguma tenha ferido de forma ou de outra, anônima ou próxima, com meu incansável
interesse. É um defeito que se pudesse eu corrigiria, mas não posso.
Simplesmente não posso. Quando era
criança gostava de abraçar a todos, todos mesmo, tudo era alvo do meu abraço, mas
me corrigiram logo, me disseram que isso era feio, errado, inapropriado,
idiota. E estavam certos: pois quem está de braços abertos nesse mundo tem que
ser um deus. Eu sou só a sua criatura e muito mal criada.
Perdão.