30 de dezembro de 2007

PASSOU
O ano passou. Não sei se vós, leitor amigo, ou vós, distinta leitora, o passastes bem. Eu, como já passei muitos, os tenho passado de todo jeito, e ainda hoje esse segundo que vem depois da meia-noite me perturba. Já passei ano só, em terra estranha, ou – o que é mais amargo – na minha; ou andando como um tonto na rua ou afundado num canto de bar ruidoso; ou tentando inutilmente telefonar; dormindo; com dor de dente. E quando digo de todo jeito estou dizendo também de jeito feliz, entre gente irmã ou nos braços de algum amor eterno – braços que depois dobraram a esquina do mês e da vida, e se foram, oh! provavelmente sem sequer a mais leve mágoa nos cotovelos, apenas indo para outros braços.
Passam os anos, passam os braços; mas fica sempre, quando a terra dá outra volta em si mesma, essa emoção confusa de um instante. Conheço pessoas que fogem a esse segundo de consciência cósmica, afetando indiferença, indo dormir cedo – como se não estivessem interessadas em saber se esta piorra velha deste planeta resolveu continuar girando ou não. É singular que entre tantas festas religiosas e cívicas nenhuma chegue a ser tão emocionante e perturbe tanto a humanidade como esta, que é a Festa do Tempo. É como se todos estivéssemos fazendo anos juntos; é o Aniversário da Terra.
Se a alma estremece diante do Destino, o espírito se confunde; reina uma tendência à filosofia barata; vejam como eu começo a escrever algumas palavras com maiúsculas, eu que levo o ano inteiro proseando em tom menor, e mesmo o nome de Deus só escrevo assim para não aborrecer os outros, ou para que eles não me aborreçam..
Já ao nome do diabo, não; a esse sempre dei, e dou, o ‘d’ pequeno, que outra coisa não merece a sua danação. A ele encomendamos o ano que passou - e a Deus, o Novo. Que vá com maiúscula também esse Novo; fica mais bonito, e levanta nosso moral.
E se entre meus leitores há alguma pessoa que na passagem do ano teve apenas um amargo encontro consigo mesmo, e viveu esse instante na solidão, na tristeza, na desesperança, no sofrimento, ou apenas no odioso tédio, que a esse alguém me seja permitido dizer: “Vinde. Vamos tocar janeiro, vamos por fevereiro e março e abril e maio, e tudo que vier; durante o ano a gente o esquece, e se esquece; é menos mal. E às vezes, ao dobrar uma semana ou quinzena, ás vezes dá uma aragem. Dá, sim; dá, e com sombra e água fresca. E quem vo-lo diz é quem já pegou muito sol nos desertos e muito mormaço nas charnecas da existência. Coragem, a Terra está rodando; vosso mal terá cura. E se não tiver, refleti que no fim todos passam e tudo passa; o fim é um grande sossego e um imenso perdão.
Rubem Braga
Rio, janeiro de 1952
FELIZ NOVO ANO.
QUE TAMBÉM VAI PASSAR!

Daniel Braga

10 de dezembro de 2007




“Menina Valente”, o que posso te dizer? Acho impessoal esse tipo de opinião, e temo diminuir seu drama com meu pragmatismo masculino. Dar-lhe-ia certamente uma avaliação afetiva, sensível, evocando arquétipos "femininos" dentro de mim, mas não parece ser isso o que você quer. Mas vejamos o que posso fazer:
Sou um homem de natureza doce, serena e, muitas vezes, sou tachado de cabeção, visto que penso demais, pondero, “re-flito “– ou seja, volto meu olhar para dentro e me perco por esse caminho. Mas não poderia de forma alguma lhe enviar uma resposta impessoal e leviana. A verdade, pelo menos, a minha verdade, é que teria que ver pessoalmente você de monoquíni, - como meu avô pede a uma repórter em “Enquête pelo telefone” - para poder ponderar a respeito de sua questão. Imagino que isso lhe soaria como desaforo, ou safadeza, ou, talvez ainda, até como escárnio. Também a repórter da crônica em questão ficou chocada, afinal esse tipo de questão “assim de momento, jamais me ocorre uma resposta passavelmente inteligente.” Posso, portanto, sugerir que você leia o texto citado do livro “A Traição das Elegantes” que, por sinal ,é nome de uma outra crônica que tem tudo a ver com o assunto, sobre o caso de uma lista de mulheres elegantes de 1967 edita na Manchete e criticada por ... Melhor mesmo seria você a ler. Arrume um tempo, como você confessa no seu perfil do Orkut, e regozije-se. “Menina Valente” também é o nome de outra crônica, deliciosa, inclusive. Quem sabe lá, você não encontre finalmente o seu Orgasmo perdido, busca esta anunciada no seu blog... Vazam as referências nossas pelos poros.
Poderia ser quase erótico, ao citar o termino do seu texto, naquela parte que você se diz preocupada demais com as coisas que colocam na sua cabeça e na . . . Não o serei. Ai seria motivo suficiente pra que você me excluísse de seus pedidos, e gosto de vez ou outra, entrar no seu blog e ler suas vicissitudes, sejam elas sobre a sua mente ou outras partes tão interessantes quanto esta do seu corpo. Mas acho que deve ser realmente uma preocupação digna, vital e sábia. Nesse assunto, só posso teorizar, para o espanto de um ou quinze “entendidos”.
Digo-lhe mais, minha adorada colega de oficio, para que pudesse responder-lhe, teria que efetuar mais um cadastro virtual e por fidelidade ao meu numero de cadastros reais, não o farei. Escrevo aqui, por depoimento, a resposta que você pediu para mim. Ou talvez não para mim diretamente, mas para toda sua lista de 990 amigos por scrap spam. Respondi ao seu canto aos quatro ventos e cá estou. Sinta-se livre para reproduzi-la na sua lista de comentários, visto que você já é cadastrada por aquelas bandas. Assinado: Daniel Braga, confrade de atletismo afetivo e admirador confesso do que conheço de sua arte e do que idealizo como suas celulites.





13 de julho de 2007

“A luz está apagada. Na platéia, o espectador se aquieta. Seu calar, sua predisposição a ser bombardeado por um simulacro de vida está para começar. A única luz que acende é a de seu aparelho móvel, para logo, logo apagar-se. Ele não está mais disponível para ser achado em qualquer lugar por um satélite artificial em órbita terrestre. Um terceiro sinal toca, a peça está para começar. A luz acende. Acende ou ascende? O espectador se assusta. Ele não reconhece o que está na sua frente. É amórfico. Não é nada. Ou talvez seja, mas se é alguma coisa, é tão rápido que chega ser imperceptível ao olho humano. O espectador fica aflito, seria melhor se a luz estivesse apagada. O espectador se mexe, inquieto na cadeira, tentando identificar naquilo, algum sentido, algum propósito. Racionalizando, especulando...”
“E por um breve e precioso segundo, ele percebe, de forma abstrata, algo ali que lhe é estranhamente familiar. Algo que ele já foi, ou será, ou talvez seja... E se questiona como isso é possível. O espectador não entende, mas passa a observar. Agora ele gostaria que a luz estivesse mais potente. “Luz, mais luz” ele pensa. E essa invocação é atendida. Naquele momento, todas as luzes do teatro estão acesas. Todas. Inclusive e principalmente as de saída de emergência. O espectador percebe que ele está em cena, junto com aquilo ali que está em sua frente, no palco. É sobre ele que aquele veículo de alegorias e simbolismos, flutuante e inconsistente, está falando. Ou sobre algo dele, algo que agora está em plena luz. São improvisos, monólogos, comédias, clássicos, rock´n´roll brazuca, religião, auto-ajuda, poéticas, “distanciamento”, performances, sofrimento em dança... Tudo aquilo que o espectador julgava, antes de morrer e renascer à luz do teatro não existir em si mesmo. E que mesmo sob a própria luz, ainda julgue se é que existe em si. O espectador está tão exposto nesse momento que ele questiona até se julga alguma coisa. Será ele tão amorfo quanto aquilo que está no palco? E como viver com essa angústia, naquele mundo fora do teatro? Será que o mundo fora do teatro é o mundo real? Ou será que ali, naquele local, esteja uma possibilidade do mundo ? O mundo está girando? A galáxia? O universo? A co-presença corporal ator-espectador está girando vertiginosamente?”
“De repente, novo susto para o espectador. Todas as luzes se apagam. Ou quase todas. Aquela primeira luz ainda está lá. O ser amorfo some quando esta ultima, por fim, se apaga. Novamente a luz retorna. É um ator que está no palco. Ele está cansado. Suado. E ele se choca. O espectador não está mais lá... Ele desce do palco, aflito. Procura de forma desesperada o espectador. Não houve aplausos. O ator não sabe se o espectador gostou. Não sabe se tudo que ele viveu surtiu algum efeito. Não houve agradecimento, crítica, sorriso, indiferença, conselho, vaia, choro, nada. O ator, desamparado, percebe muito rapidamente que a poltrona onde o espectador está diferente. Ela está marcada em volta, como se alguém houvesse ficado sentado ali por muito tempo. Intuitivamente, ele olha para o seu banquinho no palco. Ele está molhado de suor. O ator percebe que ambos, ele e espectador, ocuparam espaço, modificaram o mundo ao seu redor, se modificaram. Então, ao se mover ao acaso, o Ator então percebe por um breve instante algo espetacular para ele. Um feixe de luz partiu de sua poça de suor sobre o banquinho em direção á poltrona marcada. Foi muito rápido, mas o ator viu. Sorrindo, resolve bater palmas.”

23 de maio de 2007

Pensamentos á revelia. Repensando a vida.
Graças aos amigos, amigos de verdade, estão repensando tudo.
Primeira coisa: Aprender a dizer NÃO. Afirmar minha individualidade sem querer abraçar o mundo com as pernas... Foco... Segundo: projetar o que eu quero pra daqui á 1 ano, 2 anos, 4 anos, 8 anos, 12 anos....
Saber pra onde estou caminhando, manter-me nele, pra ir me adaptando e desfrutando-o com contentamento. Projetos para atuar, para aprender a dirigir, e estudo pra crescer em ambas as coisas, e pra me tornar um excelente professor. Uma pessoa acadêmica. Um artista vivencial , que une a teoria com a prática...

14 de fevereiro de 2007

Olá,
Estou revenviando um email que recebi de uma amiga e companheira de classe artística, Karen Accioly, criadora e diretora do Centro de Referência do Teatro Infantil , convidando para um encontro para se discutir a violência, motivada pela "missa da candelária em ação ao terrível ato sofrido pelo menino João Hélio" .
O convite segue lá embaixo. Depois dele,tomei a liberdade de uma retórica mal desenhada em forma de opnião. Quem quiser, nem se incomode de ler minhas sandices. Mas se você curtiu o convite e achar que vale a pena , pode ler e contestar. Provoque-se. Provoque-me.

----- Original Message -----
From: "Karen Acioly"
Sent: Wednesday, February 14, 2007 2:13 PM
Subject: Encontro no Teatro do Jockey/Centro de Referência do Teatro Infantil
Amigos, Acabamos de voltar da missa da candelária em ação ao terrível ato sofrido pelo menino João Hélio.Após conversarmos muito, acreditamos que muito mais tenhamos para conversar.Por este motivo , gostaríamos de agendar um encontro na primeira semana de Março , sábado, às 10 horas da manhã no Centro de Referência do Teatro Infantil/Teatro do Jockey, para conversarmos sobre a violência a que estamos todos, inclusive as crianças, expostos.Para tal encontro, estaremos tentando chamar algumas autoridades locais no âmbito da justiça, segurança, do poder público, da infância.(Se pudermos organizar um mesmo encontro, em data semelhante em São Paulo e outras cidades será muito bom.)Para tal encontro, gostaríamos de ter a adesão de todos , independente de quaisquer pensamentos distintos, pois o encontro é realmente e justamente para refletirmos juntos sobre o que estamos sentindo e percebendo a respeito destas questões, desdobramentos, ações possíveis. Enfim,Começaremos uma lista de inscrições e convites, para nos assegurarmos do possível quórum e do interesse de todos a respeito destas questões.É só um primeiro passo neste sentido. Todos estão convidados, por favor repassem o convite aos amigos e interessados. Obrigada: Karen Acioly p.s. O endereço do teatro é: Rua Mario Ribeiro, n. 410http://www.karenacioly.com.br/
*********************
O convite foi repassado. Vamos lá.

Pare de ler agora, se não quiser ser provocado

É sério, você tem coisa melhor pra fazer, inclusive, copiar essa parte de cima do email , sem essa parte de baixo
e repassar pra classe artística e amigos simpatizantes que por ventura você tem contato.

Vai, apaga esse email e vai pular marchinha de carnaval que o Xexéo desencavou.

Hm, você ficou.

Bom, a opção é sua (alias, a opção é SEMPRE sua).

Ai vai:

Possuo opniões bem distintas sobre o assunto; ao mesmo tempo que o mesmo me choca, vejo toda a maquina da mídia voltada pra ele,criando a "tragedia da semana" , que incobre outras de ordens diversas mas todas de igual importancia, e vejo a formação de opnião quanto ao fim dos direitos dos menores, sendo que o criminosos motorista que dirigia o carro nem era menor (!!!). Concordo com o aumento da pena de crimes hediondos, mas também acho perigoso o nivel de discussão inflamada pedindo por pena de morte...
Essa opnião é realmente a da sociedade? Ou é algo que ela está sendo novamente conduzido-a "pensar"? Estamos realmente inconformados, estamos reagindo finalmente, ou estamos sendo levados, essa semana, a pensar isso, enquanto se joga terra em cima do buraco do metrô de sampa, enquanto se esconde restos de ônibus queimados, enquanto questões de ética politica e social são esquecidas e viram meras citações datadas ? O que está sendo desviado do nosso olhar, enquanto estamos sendo mesmerizados pelo assunto da semana? Essas questões, a real razão pelo que as tragedias ocorrem e continuam ocorrendo, as CAUSAS e não os SINTOMAS que me preocupam: Quem ganha com o excesso de exposição da mídia em cima dessa tragédia ?

Não é frieza, nem insetatez, mas essa "normatização" da opnião me preocupa.
Me preocupa quando recebo email propondo que homenageamos o menino como bons cristãos, num prostesto silencioso, colocando uma flor antes do nosso nome no messenger, usando preto por um dia, parando por 10 minutos , "como bons cristãos que somos". HOMENAGEAR? HELLO!!!!!
O que é isso? É um prêmio agora ser famoso por uma semana por morrer tão brutalmente? E por servir a um comercio de formação de opnião?
Isso realmente é o que me assusta, o poder que esse "Beijo no Asfalto" ainda continua tendo, apesar do dramaturgo já ter denunciado.
"Vou vender jornal pra burro" continua gritando Amado Ribeiro. "Tem que respeitar, tem que respeitar! Eu não dou bola, eu não dou pelota!"

Enfim, acho que a questão pode ser motor para uma discussão MUITO mais ampla ao meu ver, sobre educação principalmente - a falta dela
(a real CAUSA ao meu ver, mas posso estar equivocado, dai se faz pertinente a troca de ideias) e outros assuntos que não os apedrejamentos e protestos falidos , equivocados e "manipulados". Posso estar totalmente equivocado e não enxegar esse assunto como a oportunidade do debate das proprias coisas que resaltei do alto de minha paranóia escorpiana. Ou, pior ainda, posso estar querendo fugir e me alienar do problema, antes que todos o façam. Não sei a resposta, mas gosto da pergunta. Sempre fui um péssimo oportunista, mas sei que preciso conviver com as oportunidades, abraça-las ou ver elas sendo abraçadas por quem possa as utilizar de forma ética. E acho minha preocupação, levemente exclarecida e um tanto quanto distanciada pra poder ver direito o problema que nos embassa a vista, é também genuína.

Como "agentes multiplicadores e formadores de opnião" que precisamos ser enquanto artístas, é de bom tom dar o nosso parecer e aparecer na discussão.

Abraços a todos em tempo de "tragédia e folia"

30 de janeiro de 2007

Escolhas podem ser, às vezes, um trabalho hercúleo.
Estou ainda bastante Avestruz, tudo me assusta, tudo eu quero me esconder e não ter que pensar.

Mas, mesmo assim, estou conseguindo ser verdadeiro com esse meu momento de luto e regenerativo.

Espero que os amigos de verdade compreendam e aceitem. Espero que as portas que parecem se fechar, na verdade, só se encostem. Mas, por outro lado, tenho uma esperança infantil que , nas poucas portas que eu abro, passo ou vislumbro, são exatamente as que eu posso e quero passar, abrir e vislumbrar.

Não sei se isso faz algum sentido pra quem lê.
Faz pra quem escreve, faz mesmo.

26 de janeiro de 2007

Qual sabor será o seu?
Será de rosa mosqueta?
Será aquele morango azedo?
Tutti frutti é que não é.
Nem pina colada, muito menos.
Qual sabor será que você tem?
Será que arde na minha língua?
Será que me fará querer mais?
Tenho pavor de gostar
Tenho vontade de provar
Que sabor será que você dará?
Será que um dia vou provar... ?