12 de abril de 2005

A Importância de seguir...
Recebo o telefone entre uma troca de mensagem com o meu amigo Felipe e com minha mulher. É o diretor de uma companhia de teatro para eventos direcionados para empresas aqui de São Paulo que trabalham com uma técnica específica e recente de Teatro.
"Daniel? È o Fulano. Estou ligando como disse que faria para dar um feedback do seu teste. Infelizmente você não passou." . e eu disse "...." (ou seja, nada disse). " O grupo entrou em consenso que tempos pouco tempo de ensaio, e existe uma linha muito tênue entre a verdade que queremos imprimir e a caricatura
Apesar de você ser um ator interessado, ter se mostrado interesse e até bastante se mostrar um bom trabalhador de equipe, o grupo achou seu trabalho mais caricato. " . Dessa vez eu consegui responder um "entendo" bem político e engolido pela vontade de chorar. Era complicado tudo isso pra mim: Sempre fui um ator de pegar trabalhos por estar envolvido com grupos teatrais ou, no máximo, fazer um teste por uma indicação ou outra. Toda essa realidade desse excesso de testes e mais testes que estou passando me é um pouco estranha.
"Eu não sei o que você pode fazer com essa informação, talvez pensar um pouco sobre isso" O Fulano continuou. Na verdade, de todos os testes que eu fiz até agora, esse era um que, salvo alguns pontos, eu tinha me encantado mais de fazer. Pagava bem, e era um trabalho teatral, apesar de diferente e com vários defeitos (como outros vários que já fiz, mas que não pagavam tão bem assim).
Agradeci a sinceridade e o feedback e ele falou mais "De qualquer forma é isso, obrigado pelo seu tempo, que você dedicou, fazendo a entrevista e o teste em si." Agradeci e disse que se houvesse uma outra oportunidade que eles poderiam me contatar "Sim, claro, Daniel, a porta não está fechada".
Fiquei muito triste ao desligar o telefone. Me engasguei com as lágrimas que ameaçavam se formar e senti um vão no lugar do chão sob meus pés. Senti que estava tentando errado, que não estou no meu ambiente, que não iria conseguir nunca trabalhar aqui, aqui até onde o trabalho dos artistas tem que ser formal e normatizado. Falei com a minha esposa por mensagem instantânea de disse que não queria falar sobre isso. Meu pai me ligou e acabei falando um pouco. Senti vontade de ligar para minha madrinha de casamento, minha grande amiga, mas segurei. Senti depois vontade de ligar para um sujeito que eu considerava amigo, mas que optou por não me ter mais ao lado dela, seja trabalhando ou como meu amigo. Respeitei essa decisão dele e liguei pra minha madrinha. Conversamos, ela me ouviu, falou aquelas coisas que falamos pros amigos nessas horas, e outras coisas pertinentes. Pensei no que ela falou, no que meu pai falou e no que eu sei que minha esposa está pensando. E agora penso com meus botões;
"Caricato". O que é ser caricato afinal ? O que é essa "verdade" que eles querem atingir? Eu não á vi lá na demonstração do grupo. Gostei mais da qualidade de integração do grupo que do trabalho artístico de cada um. Vi momentos bons, outros legais, mas de um modo geral, vi um trabalho chapado, sem cor, monocromático. O que vi era o potencial de ser uma coisa boa. E tem duas coisa que me interessaram em desejar passar .... Minto, três coisas. O grupo, o potencial e o dinheiro. Sonhei, aguardei, esperei, e a resposta chegou. Achei a resposta caricata. De um grupo que é uma caricatura de uma companhia teatral, que fazem esse Teatro-terapia para empresas. Achei que as uvas não ficaram verdes, elas sempre eram verdes, eu que as pintei de roxo na minha cabeça pra saciar minha fome. Para não ter que caminhar mais e procurar um cacho saboroso de verdade e que aceite a ser degustado por um ator "caricato". Seria a caricatura algo ruim? Não é o grande sorriso ou a grande choro das máscaras do teatro a demonstração que o artista assim pode vir a interpretar, a representar o mundo? Achei superficial o feedback. E minha intuição me diz que de verdadeiro, ele saiu por uma tangente obvia.
Conheço minhas limitações. Sei que, de um modo geral e pelos meus últimos trabalhos, não tenho seguido uma linha "realista". Mas existe muita verdade no que represento, as vezes, mais do que muitas dessa linhas. Sei porque sinto e observo quando atinjo o publico e o faço sentir. Eu vi as caras da platéia, eu percebi a simpatia do que eles viram. Claro, concordo que eles até realmente tem pouco tempo, mas acho que eles tem menos tempo agora.
Eu ca tenho comigo que eles sentiram medo. Eu tenho cá comigo que eu os mostrei, dentro da minha caricatura verdadeira que na verdade eles fazem uma verdade caricaturada, e que eles não possam acompanhar as nuanças de dilatação que eu poderia acrescentar ao repertório deles; tenho cá comigo que eles resolveram não ousar. Que eles escolheram os atores "amigos" que lá estavam, que de uma certa forma eu até entendo, eu já fui o "ator amigo" escolhido. Mas sem falsa humildade, que escolha pobre. Caricaturas de atores, que só tem em suas costas bagagem de publicidade. Caricaturas de pessoas que fingem não sonhar sair do mundinho insosso que levam. Que fingem que nada querem com emissoras de televisão nem com o estrelato. Escolhidos por um diretor que e uma caricatura de empresário, formal e, como diria o Jabour, "sem sal" e, pelas fotos que eu vi na parede, era uma caricatura de Gerald Thomas (cigarro na munheca, roupas pretas justas e cabelo grande escorrido). Ou escolhidos pelo(s) colega(s) paulistano(s), caricaturas de ator paulistano, cheios de crises mundanas e sem forma artística definida.
Mas ainda sim, estou chateado. Estou, não minto, não temo admitir, nem temo que isso não possa ser bom pra mim. As contas dessa cidade cara estão gritando para serem pagas, as datas estão estouradas, os problemas estão sem solução aparente e o ânimo anda meio desanimado. Como diria um conhecido meu - Nessas horas, respira fundo, olha pra cima, estufa o peito e fala com toda convicção: "Agora Fudeu!". e fudeu mesmo. Vou ficar como diz o Hebert na sua musica "Desempregado, endividado, sem ter onde cair morto, sem ter nem como pagar, nesse pais, nesse pais, nesse pais, que alguém me disse que era nosso, Hahahahaha".
Mas mesmo triste e sem esperança, eu continuo. Alias, a Esperança, que eu achei que poderia também ser um bom contato, não trabalha mais com isso. E outros não s que eu venho tomando esses dias de encontros com amigos aqui em São Paulo, de vontades que tenho de fazer as coisas, de outros trabalhos menos importantes, mas que ora bolas, são trabalhos. são trabalhos...