18 de maio de 2010

Arquétipos das estruturas míticas nas histórias e roteiros


Assim que entramos no mundo da mitologia e das histórias fantásticas, observamos que há tipos recorrentes de personagens e relações: heróis que partem em busca de alguma coisa, arautos que os chamam à aventura, homens e mulheres velhos e sábios que lhes dão certos dons mágicos, guardiões de entrada que parecem bloquear seu caminho, companheiros de viagem que se transformam, mudam de forma e os confundem, vilões sombras que tentam destruí-los, brincalhões que perturbam o status quo e trazem um alívio cômico. Ao descrever esses tipos comuns de personagem, símbolos e relações, o psicólogo suíço Carl G. Jung empregou o termo arquétipos para designar antigos padrões de personalidade que são uma herança compartilhada por toda a raça humana.


Jung sugeriu qu
e poderia existir um inconsciente coletivo, muito semelhante ao inconsciente pessoal. Os contos de fadas e os mitos seriam como os sonhos de uma cultura inteira, brotando desse inconsciente coletivo. Os mesmos tipos de personagem parecem ocorrer, tanto na escala pessoal como na coletiva. Os arquétipos são impressionantemente constantes através dos tempos e das mais variadas culturas, nos sonhos e nas personalidades dos indivíduos, assim como na imaginão mítica do mundo inteiro.


O mitólogo Joseph Campbell falava dos arquétipos como se fossem um fenômeno biológico, expressões dos órgãos de um corpo, parte da constituição de todo ser humano e de sua vivência. A universalidade desses padrões é que possibilita compartir a experiência de contar, ouvir e viver hisrias. Um narrador escolhinstintivamente  personagens e relações que dão ressonância à energia dos arquétipos para criar experiências dramáticas reconhecíveis por todos. Tomar consciência dos arquétipos só pode aumentar nosso domínio do ofício dramatúrgico e conseqüentemente do ator. 


Mas vale ressaltar que os arquétipos não são papéis fixos que, uma vez definidos não sofrem mutações ou não transitam na história. São sim na verdade funções que eles desempenham temporariamente para obter certos efeitos no enredo. Olhando assim, como funções flexíveis de um personagem e não como tipos rígidos e/ou mesmo estereotipados de personagem, é possível liberar a narrativa e a dramaturgia. Isso pode explicar como um personagem numa história pode manifestar qualidades de mais de um arquétipo. Pode-se, portanto, pensar nos arquétipos como máscaras, usadas temporariamente pelos personagens à medida que são necessárias para o avanço da história. Assim um personagem pode entrar na história fazendo o papel do arquétipo do arauto da aventura, depois trocar a máscara e funcionar como um bufão ou pícaro, trazendo a crítica ou o riso, ou um mentor para empurrar o protagonista para a aventura ou uma sombra para tentar destruí-lo.


Outra maneira de encarar os arquétipos clássicos é vê-los como facetas da personalidade do protagonista, do herói. Os outros personagens emanam possibilidades para esse herói- boas ou más. Às vezes um protagonista percorrer uma história reunindo e incorporando a energia e os traços de outros personagens. Aprende com eles, de forma direta ou indireta e vai fundindo tudo até chegar a ser um ser humano completo, que pegou algo de cada um que foi encontrando pelo caminho.


Os arquétipos também podem por fim ser visto como símbolos personificados das várias qualidades humanas. Como as cartas dos arcanos maiores do tarôt, simbolizam os diferentes aspectos de uma personalidade humana completa. Toda boa história é uma viagem para outro mundo a partir do mundo e da história humana total, da condição humana universal de nascer neste mundo, crescer, aprender, lutar para se tornar um indivíduo, se sacrificar pela coletividade ou por um ideal maior e morrer para poder renascer de outra forma. Os mitos trazem essa característica que emprestam para qualquer história na sua criação: A possibilidade de poderem ser percebidos como metáforas da situação humana em geral, com personagens que incorporam qualidades universais arquetípicas, que convidam para o dialogo para serem vivenciados e até compreendidos para o grupo, assim como para o individuo. E os mitos são esse campo onde giram esses arquétipos, como referências que ressoam o que é absolutamente transcendente à experiência humana.