9 de fevereiro de 2010

Ações do AutoClaudius

Ações da cena do AutoClaudius (ver post anterior)
O ator está semi despido, sem figurino, sem proteção. Ciceroneia a entrada da platéia, apresenta-se como um ator desconstruído, uma marionete quebrada e falha. Exprime raiva como um lobo ferido pelo tiro dos caçadores. Uiva para a lua.
O ator expõe seu cenário-carcaça. Desfaz e faz que nem lhe viu, começa a manipular as peças do tabuleiro. Arma a arapuca com a qual seu irmão-pai será pego. Seus sentimentos são flor, mas sua pele é grossa e de espinhos. O ator é rosa vergada como bambu ao vento, parábola de Confúcio na mão de Buda. A maquina da cabeça é grande, a do pau é maior, mas a do coração não tem tamanho. O ator agora é um rio de sangue, se liquidificando sobre as bandeiras.
A revolta ocupa a cena. A luz torna-se negra, o ator ascende a extensão, saca da espada como um Arthur bastardo, um Mordred nobre. Ele gira a espada por entre as eras, e destrona a caveira sem corpo. O escalpo dos miolos do Rei esparramados pelo chão eram as possibilidades aprisionadas em sua falida majestade.
O ator ocupa o espaço do Rei e se ocupa de lidar com o seu reinado cadáver. Corrompe-se enquanto rompe as barreiras e monta a ratoeira desmontada. Ele é a força agora, a repressão, o novo líder, vazado.
Arrepende-se, reza de joelhos por redenção, mas sabe que as portas do céu estão fechadas para usurpadores. Maquiavel bem que o avisou. Yôda também. O lado negro é o avesso do avesso do avesso do avesso. O cenário está montado. Agora a musica entra para começar o fim.

Autoclaudius

Esse texto foi criado em forma de colagem utilizando apenas as palavras (na ordem que eu quisesse) de Hamlet Machine de Heiner Miller como um monólogo do personagem Claudius, o tio de Hamlet
para montagem dessa peça .

"O meu papel no drama de Hamlet não é nada. Meu drama é a revolta contra o governo da casa, contra uma dúzia de atores de televisão. Grito na ânsia por mais poder.

Na luta por postos, votos , contas bancarias, penduro pelos pés a minha carne uniformizada. Sou o homem blindado, um edifício de pedra, a pele impermeável, a prova de bala. Meu ego atrás da caixa, sangrando frente aos meus pensamentos contra mim mesmo.

Não interessa. Começa-se a desarmar a cena. Meu papel realizar-se-ia na época da rebelião. O tempo apropriado para a derrubada das normas de trabalho se aproxima. Morte aos líderes cadáveres.

Hoje entro nos orifícios arrojados das mulheres da platéia. Vejo-me entre três delas. Sem cortejo, sugam com a boca o meu monumento oficial. Apelos por mais saliva. Ecos de gargalhadas.

Sou reverenciado pela multidão de hipócritas. Não alimento prisioneiros. Mato os que não estão de acordo com minhas mentiras. Sou a faca de escrever, o atirador de dados marcados.

A dignidade apodrece lenta no consumo nosso de cada dia. A petrificada prisão de mim mesmo jaz secreta. Perdeu-se a alegria. Esperança? Não importa mais. "