9 de fevereiro de 2010

Autoclaudius

Esse texto foi criado em forma de colagem utilizando apenas as palavras (na ordem que eu quisesse) de Hamlet Machine de Heiner Miller como um monólogo do personagem Claudius, o tio de Hamlet
para montagem dessa peça .

"O meu papel no drama de Hamlet não é nada. Meu drama é a revolta contra o governo da casa, contra uma dúzia de atores de televisão. Grito na ânsia por mais poder.

Na luta por postos, votos , contas bancarias, penduro pelos pés a minha carne uniformizada. Sou o homem blindado, um edifício de pedra, a pele impermeável, a prova de bala. Meu ego atrás da caixa, sangrando frente aos meus pensamentos contra mim mesmo.

Não interessa. Começa-se a desarmar a cena. Meu papel realizar-se-ia na época da rebelião. O tempo apropriado para a derrubada das normas de trabalho se aproxima. Morte aos líderes cadáveres.

Hoje entro nos orifícios arrojados das mulheres da platéia. Vejo-me entre três delas. Sem cortejo, sugam com a boca o meu monumento oficial. Apelos por mais saliva. Ecos de gargalhadas.

Sou reverenciado pela multidão de hipócritas. Não alimento prisioneiros. Mato os que não estão de acordo com minhas mentiras. Sou a faca de escrever, o atirador de dados marcados.

A dignidade apodrece lenta no consumo nosso de cada dia. A petrificada prisão de mim mesmo jaz secreta. Perdeu-se a alegria. Esperança? Não importa mais. "

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