10 de maio de 2013

Viajando no Artaud e no Stanislávski



Quanto procura se apropriar de questões relativas à contemporaneidade cênica a partir de seu legado por intermédio de seus escritos e dos documentos  que registram sua prática teatral, pode-se reconhecer em Antonin Artaud (1896-1948), um deslocamento de foco nas reflexões sobre o teatro, um deslocamento que será determinante para o desenvolvimento dessa forma de arte no século xx.
            Podemos pensar que, por inicio, o primeiro reformadores do trabalho do ator, a começar por Constantin Stanislávski (1863-1938) nos oito últimos anos de sua vida, a segunda fase de suas pesquisas - a mais importante de sua obra, por ser abrangente e conclusiva -  desenvolveu seu método, o Sistema das Ações Físicas.   
Antes desta sistematização o ator ocidental aprendia na imitação do mestre (um ator mais velho que transmitia ao aluno-ator os passos, os textos e formas pré-concebidas etapa por etapa). Já neste sistema o diretor russo subordina a técnica e a criatividade, não mais à psicologia, como na fase anterior, mas à expressão física - vivência - das ações.
O primeiro passo para estabelecer um processo criativo orgânico passou a ser a relação física do ator com os objetos e pessoas que estão à volta e que são a base de suas sensações. Stanislávski dá ao ator o status de criador cênico. Não mais mero reprodutor das ideias do diretor. Faz do teatro um processo onde autor, diretor e atores promovem uma unidade de criação cênica, tendo-o como fruto de experimentação prática e contínua, onde os sentimentos interiores e exteriores do ator correm de acordo com as metas fixadas para eles, e não há absolutamente nenhuma coerção ou desvio de norma, nenhum clichê ou qualquer espécie de atuação convencional. Bastante apropriado para o ator que quer romper com formas antigas e buscar uma autonomia na sua composição. Porém o sistematizador russo partia do texto como pontapé inicial de sua criação e por conseqüência do processo que seu sistema sugeria ao ator. Ao passo que Artaud irá questionar esse “pré-conceito” ao transcorrer sobre um dos Duplos do Teatro, a Metafísica;
“Como é que o teatro ocidental (digo ocidental porque felizmente há outros, como o teatro oriental, que souberam conservar intacta a idéia de teatro, ao passo que no ocidente esta idéia - corno todo o resto - se prostituiu), como é que o teatro ocidental não enxerga o teatro sob um outro aspecto que não o do teatro dialogado? “
Contrário à imposição da palavra como única matriz geradora do espetáculo, o artista francês coloca em evidência a imporncia dos outros elementos presentes na encenação para o alargamento das possibilidades de significação do teatro: o ator, com seu corpo e sua voz; a iluminação; as sonoridades da música e da palavra; o figurino; e o espaço. Sobre outro Duplo, a Peste, mostra o quanto essa junção caótica: 
“ Uma verdadeira peça de teatro perturba o repouso dos sentidos, libera o inconsciente comprimido, leva a uma espécie de revolta virtual e que aliás só poderá assumir todo o seu valor se permanecer virtual, impõe às coletividades reunidas uma atitude heróica e dicil.”
Nesta dificuldade e heroísmo próprio dos mitos, podemos dizer que Artaud buscou, assim como Wagner, um "teatro total". Porém, as concepções diferenciam-se em seus fundamentos. Na Gesamtkunsterk wagneriana, todos os elementos do espetáculo deveriam estar a serviço da "arte maior": a música. Artaud, por sua vez, influenciado pelas estéticas teatrais orientais, apesar de reconhecer na música princípios fundamentais para a estruturação do gesto e da palavra, não estabelece uma hierarquia entre os meios de expressão utilizáveis em cena.
No que diz respeito, portanto, à ação física, o artista francês contribui para o seu desenvolvimento enquanto conceito, à medida que utiliza como "matrizes geradoras" de ações, os diferentes "duplos" do teatro como a metafísica e a peste.
Para Artaud, a experiência teatral deve ir além do exercício puramente intelectual. Através de suas elaborações teóricas e de sua prática, o teatro volta-se, assim como já ocorrido com as outras formas de arte, para o específico de suas possibilidades expressivas, as quais, antes de contar uma história, devem agir sobre os sentidos.
Em resumo as matrizes geradoras das ações físicas se descolam  do textocentrismo com Artaud, pois no seu teatro e conseqüentemente nas ações executadas pelos atores, ele se utiliza dos “duplos” como a metafísica e a peste para tornar-las signos.  

* Chamo de Sistema de Ações Físicas já que Stanislávski não criou um Método, nunca chamou de método e sim de um sistema. Ele não deixou um ‘como fazer’ passo a passo. A única forma de passar pelo Método das Ações Físicas seria através do próprio Stanislávski, em pessoa. Além disso, tantos seguidores do diretor chamaram o que interpretam como seu sistema como “Método”, como, por exemplo, os criadores do Actor Studio norte-americano. Portanto, para propósito deste texto, utilizei terminologia Sistema das Ações Físicas.

3 de maio de 2013

Neo Kal-El

Vi o trailer do Homem de Aço essa segunda. Os tempos mudam. E mudança sempre é bom. Até quando é pra nos trazer um sentimento tão feliz chamado saudosismo. Coisas que balizaram nossa jornada nessa "vida louca vida, vida breve". E eu me peguei mais uma vez lembrando que quando acreditei junto com o Gilberto Gil que um homem veio “nos restituir a glória”. E que ele podia voar. E ainda pode.

Os tempos mudam. Todas as adaptações televisivas já apontam o caminho pros leigos que aquele deus voador, depois desse filme, passaria a olhar cada vez mais para dentro. Esse é o nosso momento, e como um ícone Pop, ele não tinha como olhar mais para frente, para nós  e sorrir. Para acreditarmos na interpretação realista e nos CGs cada vez mais os heróis estarão voltados muito mais pra sua jornada interna do que olhar para o coletivo. Esse é o nosso momento: O mundo cresce cada vez mais, tudo altamente mapeado, seja o GPS, o Satélite ou o Microscópico. E cada vez mais apenas olhamos pro nosso individual com a desculpa de que assim cuidamos melhor do coletivo. O Campeão Social da Justiça dos novos tempos não sorri, sofre com seu fardo, com seu legado, com sua herança, ao que ele está pré-destinado. Essa é a sua nova Kriptonita. E exatamente quando mais precisamos de um campeão social, pois quem hoje quem olha pro coletivo apenas o faz por demagogia ou interesse próprio, sem sacrifício. Mas a consciência da dor da Kriptonita é boa. Pois quando ele transpõe sua fraqueza ele se torna mais Super. E espero que o Homem do Amanhã vença essa batalha, o melodrama egoísta, o medo e o receio de ser quem ele precisa se tornar, quem nós, os fãs, precisamos que ele se torne. Aquele que precisa usar seus Super Sentidos de dentro para fora.

Os seus dois pais, dois “nerds judeus” que o criaram pegaram toda a sua dor de serem menosprezados e deram para seu filho como a sua maior potência. O seu maior Super-poder. E então, vários anos depois, um diretor de cinema que tinha a tarefa de fazê voar na tela grande resolveu que o que lhe daria essa habilidade seria a sua inocência pueril. Para que o homem pudesse voar ele teria que fazer com que a plateia acreditasse como as crianças acreditam que a fada que voa e que faz o Pueri Eternus voar existe e precisa que eles afirmem sua crença para que ela continue existindo.   

Torço pro Cavill arrebentar no papel de Kal-El. Porque esse sorriso aqui
quebrando "a quarta parede", nos dizendo que é apenas um filme e mesmo assim você acreditou e voou com ele, esse aqui pode até ser superado, mas não será, pelo menos para os fãs, não será esquecido. Que venha o novo Homem de Aço.