Eu, enquanto empresário e produtor de mim mesmo sou muito ruim. Em momentos que opto estar com os meus colegas de profissão em vez dos amigos, em especial aqueles mesmos momentos em que tenho que estabelecer essa divisão me dói e me geram uma certa culpa.
Mas são os ossos do ofício. Misturas as egrégoras eu já vi que não funciona e, mais do que isso, não posso me apegar à Moral que me proibiria de saber utilizar essa vantagem de ter dois ou mais círculos de conhecidos. Pelo contraio, ontem eu tive a maior prova que, sabendo lidar com isso, sem culpa mas com educação e discernimento eu sou altamente favorecido.
Ontem fiquei sabendo que um antigo colega de trabalho de meu começo juvenil de carreira estava no Rio e marquei de encontra-lo. Parti tarde, horário que o sujeito me ligou para o Baixo Gávea, ao mesmo tempo que avisei amigos atuais meus que estaria por lá. Eles marcaram de me retornar no meu celular, mas como celular é aquela coisa que você nunca sabe quando vai funcionar direito ou não, aparentemente eles devem ter tentado me retornar em algum momento "sem serviço". Bom, chego na mesa do meu amigo e ele está acompanhado de pessoas também do meu passado no meio, mas que mantive contato e hoje me tratam de forma normal, em especial algumas que trabalhei recentemente e não tenho mais motivos pra conviver. Estava um pouco desconfortável, mas querendo ficar e me aproximar desse meu colega pra conversarmos. Neste momento me aparecem meus queridos amigos atuais e percebendo que eu estava "ocupado" me avisaram que estariam no outro bar sentado. Eu, cheio de dedos e um pouco de culpa, respirei fundo e disse que já estaria com eles. Nos meus comportamentos passados, bem “mal passados”, eu teria ficar roendo as unhas na mesa, esperando as pessoas decidirem ir embora para poder ir de encontro, encabulado do meu outro grupo. Mas mantive-me animado e dessa vez, até pela deixa do foco dos amigos, me tornei o assunto da mesa. Dai em diante participei ativamente dos assuntos, até o momento em que senti que estes morreriam e voltaríamos a ficar naquele estado anterior de mesas cheias de bar. Nesse momento me desapeguei completamente do fato de ter de "fazer mesa" para os amigos antigos, uma vez que realmente ia ter que fazer malabarismos para retornarmos a assuntos interessantes e levantei e me despedi, dizendo que tinha que ir para outra mesa onde meus amigos estavam me esperando.
Domingos de Oliveira diz que o melhor da festa é o fim da festa e eu concordo, se for uma boa festa. Mas acho que a arte de saber quando ir embora, que aprendi com um famoso ator de grande sucesso e ao qual tenho admiração e carinho, é a grande sabedoria de conviver nesse glamuroso meio artístico.
Ouvi uns comentários, mas refutei com firmeza e educação que TINHA que encontrar meu amigos, até brincado com o status social deles (amigos empresários, oras!) e parti para o outro bar. Como estava feliz de ter agido assim, com controle, maturidade e discernimento. E como achava que tinha sido bem educado, não estava preocupado de ter ficado algum clima nesse movimento. Confesso que estava até de certa forma orgulhoso, mas nem todo o orgulho que eu possa ter me preparou para o que veio a seguir.
Encontrei meus amigos e com muita felicidade, me sentei a mesa, que já estava animada e pude relaxar e compartilhar esse encontro. Papo vai, papo vem, descubro que, poucas horas depois, meu amigo da outra mesa e algumas outras pessoas vieram a minha mesa se despedir de mim.
Sobre brincadeiras de "seu tratante", uma outra amiga que também estava na mesa e que também não via a muito tempo, mas estava entretida antes e não havia me dado a mesma atenção que o outro amigo, veio à minha mesa reforçar que gostaria de me ver de novo.
Fiquei muito feliz, ainda amais porque estava na mesa que me deixa mais confortável e essas mesmas pessoas de meu passado, que me viram molecote, bobo, influenciável, que poderia passar a noite toda com eles só para fazer essa "média" observaram essa pequena ma definitiva evolução e por isso não deixei de perceber essa admiração à minha lealdade aos meus próprios sentimentos. Não gostamos das pessoas que estão de bem com elas mesmas, que sabem se cuidar. Se uma pessoa expressa amor para o básico, sua própria pessoa, ela está apta a expressar esse sentimento aos outros. Quem quer conviver com inseguros, depressivos, por opção?
Segui minha noite com meus amigos atuais, feliz desse aprendizado prático e mais feliz de não ter feito com ninguém, seguindo como base o simples fato de me tratar bem e com isso tratar bem e educadamente o que está ao meu redor.
Engraçada essa minha tendência de transformar tudo um épico. Mas foda-se, a vida é minha e se eu a vejo assim, quem vai me dizer que eu estou errado?
E não acho mesmo que é ego é uma coisa pra ser tolida, castrada. O Ego é belo, deve ser domado, disciplinado. UM Cavalo selvagem e vistoso você pode castra-lo pra ser amansado ou você pode doma-lo e fazer com que ele se torne sua leal montaria. Ela me faz cavalgar mais longe, mais depressa aos meus objetivos e me mostra a mais bela das paisagens. Mais do que provado.
“Nunca diga não à sua verdadeira vontade!”
23 de julho de 2003
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