10 de dezembro de 2003

Aos casados a muito tempo,
Aos que não casaram,
Aos que vão casar,
Aos que acabaram de casar,
Aos que pensam em se separar,
Aos que acabaram de se separar,
Aos que pensam em voltar...

Reflitam!

Por mais que o poder e o dinheiro tenham conquistado uma ótima posição no
ranking das virtudes, o amor ainda lidera com folga, ainda que hoje quase
todos tenham tanto medo de se entregar ao amor. Tudo o que todos querem é
amar. Encontrar alguém que faça bater forte o coração e justifique loucuras.
Que nos faça entrar em transe. Que nos faça revirar os olhos, rir à toa,
cantarolar no trânsito engarrafado. Tem algum médico aí? Depois que acaba
esta paixão retumbante, sobra o que? O amor. Mas não o amor mistificado, que
muitos julgam ter o poder de fazer levitar. O que sobra é o amor que todos
conhecemos, o sentimento que temos por mãe, pai, irmão, filho. É tudo o
mesmo amor, só que entre amantes existe sexo. Não existem vários tipos de
amor, assim como não existem três tipos de
saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja. O amor é único, como
qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus.
A diferença é que, como entre homem e mulher não há laços de sangue, a
sedução tem que ser ininterrupta. Por não haver nenhuma garantia de
durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança
em cobrança, ou de machucadas em machucadas acabamos por sepultar uma
relação que poderia ser eterna. Amo você para lá, amo você para cá. Lindo,
mas insustentável. O sucesso de uma relação exige mais do que declarações
românticas. Entre duas pessoas que resolvem se amar, tem que haver muito
mais do que amor. É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Respeito
ao outro. Agressões zero. Disposição para ouvir argumentos alheios. Muita
paciência. Amor, só, não basta. Não pode haver competição. Nem comparações.
Tem que ter jogo de cintura para acatar regras que não foram previamente
combinadas. Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de
carência, infantilidades. Tem que saber levar. Amar, só, é pouco. Tem que
haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões
pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas para pagar. Tem que
ter disciplina, dar exemplo, não gritar! Tem que ter um bom psiquiatra. Não
adianta, apenas, amar. Entre casais que se unem visando à longevidade da
relação tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida
própria, um tempo para cada um. E muito tempo para os dois juntos. Tem que
haver confiança. Uma certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer
de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa,
necessariamente, fusão. E que amar, 'solamente', não basta. Entre homens e
mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé
no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar
para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado. O amor é grande mas não
é dois. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor
que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele
próprio não se basta. Um bom amor aos que já têm! Um bom encontro aos que
procuram! E felicidades a todos nós!

(por Arthur da Tavola, enviado para mim pela Minha Parvati Linda)

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