Coisa de Nerd? pode ser...
Mas se você curte Vampire, Trasylvania e Vlad Drácula...
Entre aqui e depois aqui
****
Ah, que saudosismo bom!
5 de novembro de 2005
3 de novembro de 2005
12 de outubro de 2005
Compartilho convosco esse texto:
Olha só o Ecco revelando (no finalzinho do artigo) sua veia fundamentalista!
Surpreendente e arrepiante!
O êxito do Código da Vinci
UMBERTO ECO
Todos os dias vem parar em minhas mãos um novo comentário sobre O Código da Vinci, de Dan Brown. Se quiserem uma informação atualizada sobre todos os artigos a respeito do tema, basta visitar o site da Opus Dei. Podem confiar, mesmo se forem ateus. Quando muito - como veremos - a questão talvez seja por que o mundo católico se azafama tanto para arrasar o livro de Dan Brown; mas quando a parte católica explica que todas as informações que o livro contém são falsas, podem acreditar.
Que fique claro. O Código da Vinci é um romance, e como tal, teria direito de inventar o que quisesse. Além disso é escrito com habilidade e o lemos de um só fôlego. Nem é grave que o autor de início diga que o que nos conta é verdade histórica. Só faltava essa! O leitor profissional está acostumado a esses apelos narrativos à verdade, fazem parte do jogo ficcional. A encrenca começa quando percebemos que um grande número de leitores ocasionais acredita realmente nessa afirmação, da mesma forma que no teatro de marionetes siciliano os espectadores insultavam Gano de Maganza, o traidor.
Para desmontar a suposta veracidade histórica do livro, bastaria um artigo razoavelmente breve (e já andaram escrevendo uns ótimos) que diga duas coisas: a primeira é que todo o episódio de Jesus que se casa com Maria Madalena, de sua viagem à França, da fundação da dinastia merovíngia e do Priorado de Sion é tudo quinquilharia que já circulava há décadas numa pletora de livros e livrinhos para os devotos das ciências ocultas, desde aqueles de Gérard de Sède sobre Rennes- le-Chateau ao O Santo Graal e a linhagem sagrada de Baigent, Leigh e Lincoln.
Ora, que tudo isso contivesse uma longa série de lorotas já foi dito e demonstrado há um bom tempo. Além disso, parece que Baigent, Lincoln e Leigh ameaçaram (ou realmente iniciaram) uma ação judicial contra Brown, por plágio. Como assim? Se eu escrever uma biografia de Napoleão (narrando eventos reais), depois não posso processar por plágio alguém que tenha escrito outra biografia de Napoleão, ainda que romanceada, narrando os mesmos eventos históricos? Se eu fizer isso, então me queixo do roubo de uma originalíssima invenção minha (ou seja fantasia, ou lorota, como preferirem). Brown dissemina seu livro de inúmeros erros históricos, como aquele de ir buscar informações sobre Jesus (que a igreja teria censurado) nos pergaminhos do Mar Morto - os quais não falam nunca de Jesus, mas de assuntos hebraicos como os Essenes. É que Brown confunde os manuscritos do Mar Morto com aqueles de Nag Hammadi. Ora, acontece que a maioria dos livros que aparecem sobre o caso Brown, mesmo e especialmente aqueles bem feitos, para poder alcançar o número de páginas suficiente para fazer um livro, contam tudo o que Brown saqueou, tintim por tintim.
Esses livros, em alguma medida perversa, embora sejam escritos para denunciar falsidades, contribuem para fazer circular e recircular todo aquele material oculto. Assim (assumindo a interessante hipótese que O Código seja um complô satânico), toda refutação que se lhe faz reproduz as insinuações, e com isso acabam se tornando seu megafone.
Por que, mesmo quando é contestado, O Código se autoreproduz? Porque as pessoas têm sede de mistérios (e de complôs) e basta que se lhes ofereça a possibilidade de pensar sobre mais um mistério (e até no momento em que você lhe diz que era a invenção de alguns espertinhos) e pronto, todos começam a acreditar naquilo.
Acho que seja isso o que preocupa a igreja. A crença no Código (e em outro Jesus) é um sintoma de descristianização. Quando as pessoas não acreditam mais em Deus, dizia Chesterton, não é que não acreditem em mais nada, mas acreditam em tudo. Até nos meios de comunicação de massa.
Fiquei impressionado com a figura de um jovem imbecil que, na praça São Pedro, enquanto uma multidão imensa aguardava a notícia da morte do Papa, ele, de celular no ouvido, dava tchauzinho para a câmara de TV. Por que é que estava ali (e por que estavam ali tantos outros como ele, enquanto talvez milhões de verdadeiros crentes estavam em suas casas, e orando)? Em sua espera de um sobrenatural midiático, não estaria ele pronto a acreditar que Jesus tenha se casado com Madalena e estivesse mística e dinasticamente ligado pelo Priorado de Sion a Jean Cocteau?
Olha só o Ecco revelando (no finalzinho do artigo) sua veia fundamentalista!
Surpreendente e arrepiante!
O êxito do Código da Vinci
UMBERTO ECO
Todos os dias vem parar em minhas mãos um novo comentário sobre O Código da Vinci, de Dan Brown. Se quiserem uma informação atualizada sobre todos os artigos a respeito do tema, basta visitar o site da Opus Dei. Podem confiar, mesmo se forem ateus. Quando muito - como veremos - a questão talvez seja por que o mundo católico se azafama tanto para arrasar o livro de Dan Brown; mas quando a parte católica explica que todas as informações que o livro contém são falsas, podem acreditar.
Que fique claro. O Código da Vinci é um romance, e como tal, teria direito de inventar o que quisesse. Além disso é escrito com habilidade e o lemos de um só fôlego. Nem é grave que o autor de início diga que o que nos conta é verdade histórica. Só faltava essa! O leitor profissional está acostumado a esses apelos narrativos à verdade, fazem parte do jogo ficcional. A encrenca começa quando percebemos que um grande número de leitores ocasionais acredita realmente nessa afirmação, da mesma forma que no teatro de marionetes siciliano os espectadores insultavam Gano de Maganza, o traidor.
Para desmontar a suposta veracidade histórica do livro, bastaria um artigo razoavelmente breve (e já andaram escrevendo uns ótimos) que diga duas coisas: a primeira é que todo o episódio de Jesus que se casa com Maria Madalena, de sua viagem à França, da fundação da dinastia merovíngia e do Priorado de Sion é tudo quinquilharia que já circulava há décadas numa pletora de livros e livrinhos para os devotos das ciências ocultas, desde aqueles de Gérard de Sède sobre Rennes- le-Chateau ao O Santo Graal e a linhagem sagrada de Baigent, Leigh e Lincoln.
Ora, que tudo isso contivesse uma longa série de lorotas já foi dito e demonstrado há um bom tempo. Além disso, parece que Baigent, Lincoln e Leigh ameaçaram (ou realmente iniciaram) uma ação judicial contra Brown, por plágio. Como assim? Se eu escrever uma biografia de Napoleão (narrando eventos reais), depois não posso processar por plágio alguém que tenha escrito outra biografia de Napoleão, ainda que romanceada, narrando os mesmos eventos históricos? Se eu fizer isso, então me queixo do roubo de uma originalíssima invenção minha (ou seja fantasia, ou lorota, como preferirem). Brown dissemina seu livro de inúmeros erros históricos, como aquele de ir buscar informações sobre Jesus (que a igreja teria censurado) nos pergaminhos do Mar Morto - os quais não falam nunca de Jesus, mas de assuntos hebraicos como os Essenes. É que Brown confunde os manuscritos do Mar Morto com aqueles de Nag Hammadi. Ora, acontece que a maioria dos livros que aparecem sobre o caso Brown, mesmo e especialmente aqueles bem feitos, para poder alcançar o número de páginas suficiente para fazer um livro, contam tudo o que Brown saqueou, tintim por tintim.
Esses livros, em alguma medida perversa, embora sejam escritos para denunciar falsidades, contribuem para fazer circular e recircular todo aquele material oculto. Assim (assumindo a interessante hipótese que O Código seja um complô satânico), toda refutação que se lhe faz reproduz as insinuações, e com isso acabam se tornando seu megafone.
Por que, mesmo quando é contestado, O Código se autoreproduz? Porque as pessoas têm sede de mistérios (e de complôs) e basta que se lhes ofereça a possibilidade de pensar sobre mais um mistério (e até no momento em que você lhe diz que era a invenção de alguns espertinhos) e pronto, todos começam a acreditar naquilo.
Acho que seja isso o que preocupa a igreja. A crença no Código (e em outro Jesus) é um sintoma de descristianização. Quando as pessoas não acreditam mais em Deus, dizia Chesterton, não é que não acreditem em mais nada, mas acreditam em tudo. Até nos meios de comunicação de massa.
Fiquei impressionado com a figura de um jovem imbecil que, na praça São Pedro, enquanto uma multidão imensa aguardava a notícia da morte do Papa, ele, de celular no ouvido, dava tchauzinho para a câmara de TV. Por que é que estava ali (e por que estavam ali tantos outros como ele, enquanto talvez milhões de verdadeiros crentes estavam em suas casas, e orando)? Em sua espera de um sobrenatural midiático, não estaria ele pronto a acreditar que Jesus tenha se casado com Madalena e estivesse mística e dinasticamente ligado pelo Priorado de Sion a Jean Cocteau?
30 de setembro de 2005
Depois da Tempestade... A poça d´agua.
Por pura convicção e até uma boa dose de teimosia prometi a mim mesmo que só iria escrever depois de conseguir trabalhar, fato que rolou neste final de semana passado. O horizonte está mais límpido, o chão mais enfeitado pelas flores e um lampejo de esperança teima em me tranqüilizar e me dar conforto. Claro, as coisas não acontecem todas juntas, mas quando começa a acontecer de fato elas vão se sobrepondo de forma que até preocupa. Mas preocupa de forma saudável, não amedronta. Medo pra que?
A saúde anda meio variante, muita chuva no Rio, muito frio em Sampa, muito tempo pulando de uma cidade pra outra. Novidades estão por vir, assim desejo, mentalizo e quase vocifero. Andando com o resto de sol que espreita entre um bloqueio de nuvens, pairando sobre minhas costas... E uma beleza fotográfica me deixa de suor na testa, boca seca e sorriso torto. Coisas boas e gostosas mantendo o interesse em alta, o desejo crescente e o temperamento agitado. Coisas boas e gostosas.
Por pura convicção e até uma boa dose de teimosia prometi a mim mesmo que só iria escrever depois de conseguir trabalhar, fato que rolou neste final de semana passado. O horizonte está mais límpido, o chão mais enfeitado pelas flores e um lampejo de esperança teima em me tranqüilizar e me dar conforto. Claro, as coisas não acontecem todas juntas, mas quando começa a acontecer de fato elas vão se sobrepondo de forma que até preocupa. Mas preocupa de forma saudável, não amedronta. Medo pra que?
A saúde anda meio variante, muita chuva no Rio, muito frio em Sampa, muito tempo pulando de uma cidade pra outra. Novidades estão por vir, assim desejo, mentalizo e quase vocifero. Andando com o resto de sol que espreita entre um bloqueio de nuvens, pairando sobre minhas costas... E uma beleza fotográfica me deixa de suor na testa, boca seca e sorriso torto. Coisas boas e gostosas mantendo o interesse em alta, o desejo crescente e o temperamento agitado. Coisas boas e gostosas.
6 de setembro de 2005
Lado Ruim. Se você me considera uma pessoa legal, não leia.
Pior sentimento que a inércia pode criar é a inveja. Vejo meus amigos crescendo na profissão, vejo pessoas sem talento ou até com um pouco de carisma, vejo elas nos palcos, nos holofotes, a frente das câmeras, se me sinto mal. Eu sei que na verdade, EU queria estar lá, pois é o que eu sei fazer, mas o fato de estar parado me torna pior, me torna desejoso demais do que eles estão fazendo. O fato de não poder estar o tempo todo lidando com minha profissão , de não trabalhar a tempos, de nem aulas estar fazendo pela completa e total falta de dinheiro, e pior, de que agora eu ter que ser comprometido com a realidade de outra pessoa... Que difícil que é não ter esses sentimentos viscosos. De me ver encostado, sedentário, mal vestido, de me sentir mal porque não posso ficar um pouco na pior sem arrastar alguém junto... Como é duro. O pior é que a culpa é exclusivamente minha. Mas eu tento transmutar esses sentimentos. De ficar feliz de ver um amigo que eu indiquei o caminho a três anos estar brilhando no teatro e até fazendo particiação em novela das 20hs, de ver desconhecidos aqui em São Paulo fazendo papéis belíssimos sob uma produção pequena mas com enorme potencial. Só o movimento pode me ajudar, mas eu não sei pra onde me movimentar, sinto que cada movimento que eu faço pra direção equivocada me prejudica, e agora, a expectativas de duas famílias repousam sobre meus ombros. E pior, não tenho nem direto de me sentir mal por isso, foi um caminho que eu cavei, que eu trilhei despretensioso o, sem pensar nas conseqüências. E não tenho quem responsabilizar, afinal, meu orgulho nunca me fez pedir opinião aos outros, e meu compromisso com o artístico nunca me deixou pensar em formas mais eficientes de ganhar dinheiro com essa profissão. Faltou um guia, mas um guia interno. Espero que ainda exista tempo para isso. Preciso que agora exista. Pois eu estou sufocando de tanta pressão. E de saber que para passar por isso tenho que fazer pressão contra, ou seja, lutar contra isso. E eu sou um ótimo lutador quando os oponentes são desconhecidos, mas não sei lutar contra meus entes queridos nem, muito menos , contra minha inércia e lentidão. Peço que essa força que existe dentro de mim seja superior. Mesmo!
Pior sentimento que a inércia pode criar é a inveja. Vejo meus amigos crescendo na profissão, vejo pessoas sem talento ou até com um pouco de carisma, vejo elas nos palcos, nos holofotes, a frente das câmeras, se me sinto mal. Eu sei que na verdade, EU queria estar lá, pois é o que eu sei fazer, mas o fato de estar parado me torna pior, me torna desejoso demais do que eles estão fazendo. O fato de não poder estar o tempo todo lidando com minha profissão , de não trabalhar a tempos, de nem aulas estar fazendo pela completa e total falta de dinheiro, e pior, de que agora eu ter que ser comprometido com a realidade de outra pessoa... Que difícil que é não ter esses sentimentos viscosos. De me ver encostado, sedentário, mal vestido, de me sentir mal porque não posso ficar um pouco na pior sem arrastar alguém junto... Como é duro. O pior é que a culpa é exclusivamente minha. Mas eu tento transmutar esses sentimentos. De ficar feliz de ver um amigo que eu indiquei o caminho a três anos estar brilhando no teatro e até fazendo particiação em novela das 20hs, de ver desconhecidos aqui em São Paulo fazendo papéis belíssimos sob uma produção pequena mas com enorme potencial. Só o movimento pode me ajudar, mas eu não sei pra onde me movimentar, sinto que cada movimento que eu faço pra direção equivocada me prejudica, e agora, a expectativas de duas famílias repousam sobre meus ombros. E pior, não tenho nem direto de me sentir mal por isso, foi um caminho que eu cavei, que eu trilhei despretensioso o, sem pensar nas conseqüências. E não tenho quem responsabilizar, afinal, meu orgulho nunca me fez pedir opinião aos outros, e meu compromisso com o artístico nunca me deixou pensar em formas mais eficientes de ganhar dinheiro com essa profissão. Faltou um guia, mas um guia interno. Espero que ainda exista tempo para isso. Preciso que agora exista. Pois eu estou sufocando de tanta pressão. E de saber que para passar por isso tenho que fazer pressão contra, ou seja, lutar contra isso. E eu sou um ótimo lutador quando os oponentes são desconhecidos, mas não sei lutar contra meus entes queridos nem, muito menos , contra minha inércia e lentidão. Peço que essa força que existe dentro de mim seja superior. Mesmo!
17 de agosto de 2005
Se - (If, Rudyard Kipling - 1910)
Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires;
De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores;
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, porque deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!"
Se és capaz de, entre a plebe não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigo, quer bons, quer maus, te defenderes;
Se a todos poder ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que é mais - és um homem, meu filho!
Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires;
De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores;
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, porque deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;
Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!"
Se és capaz de, entre a plebe não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigo, quer bons, quer maus, te defenderes;
Se a todos poder ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que é mais - és um homem, meu filho!
9 de agosto de 2005
21 de julho de 2005
Dia do amigo,
Estranhamente, meu dia do amigo começou com uma leve dor de estomago, este órgão temperamental. E, como parte amiga da minha sobrevivência, tive que ser compreensivo com ele e dar-lhe o tempo que ele necessita para se regularizar. Terminado esse faniquito desse amigo primal, recebi de um outro amigo - esse pessoa física, com C/C, CPF e CEP - uma mensagem instantânea pulsante na tela da minha conexão com a virtualidade a noticia que ele quer ir ao cinema com a minha companhia também física. Falei ao telefone com outro amigo, e ouvi com os olhos o problema digital de uma outra. Troquei comprimentos cordiais com outros conhecidos que transitam pelo meu mundo de recados rápidos e sonoros e fui á luta, enfrentar meu dragão do dia. Esquivada essa ligação telefônica o meu primeiro amigo do dia ainda se manifestou, fato pelo qual eu fiz meu segundo amigo esperar um pouco. Após muitas conversas chegamos á camarada sala de cinema assistindo um filme espanhol sensacional, os Inconscientes, que muito me fez bem. Pegamos uma colega do coração no caminho e sentamos no Braseiro, donde confabulamos e trocamos muitas idéias boas. Alias, muito boas. Pois amigo que é amigo fala mesmo, e tem que falar, de preferência, pra te adicionar, solver uma duvida ou expor um ponto de vista alheio á sua obstrução visual perante á vida. Inclusive, tomei uma chamada depois de um fato bem específico: Nossa amiga ia embora, pedimos a conta para reabri-la. Mas o garçon entendeu que estávamos indo embora (nada mais lógico) e ofereceu a mesa á outra pessoa. Pessoas nada amigáveis pularam na nossa mesa quando a conta quitada se foi e eu me senti acuado e, vacilando, cedi a mesa para os desesperados e desavisados. Tomei uma bela chamada dos meus amigos, que, mesmo tendo entendido que eu fui “legal” com as pessoas acham que eu tenho que impor mais minha vontade, em tudo (!) daí seguimos para tomar um café no Letras e “Depressões”. Lá o papo evoluiu mais ainda, e para minha melhor surpresa, reencontrei uma outra amiga, cúmplice de ofício artístico, que me injetou vontade, me falou sobre propósito, motivação, posicionamento, me presenteou com um poema e um livro. Um dia do amigo incrivelmente solidário e especial. O poema não é pessoal para mim, mas me foi agraciado num momento de profundo questionamento meu com outros amigos, parentes, ex-amigos, ex-colegas de profissão, e sobre tudo, comigo mesmo. Ele assim diz:
“Quando eu desejo pra você o que você deseja pra você, eu estou te amando. Quando eu desejo pra você o que eu desejo pra você, eu estou me amando através de você.”
Eu adiciono: “E vice-versa . . .”
Donde eu concluo que, nem sempre no dia do amigo o primeiro amigo é o amigo que mais vai te dar alegria, mas que no fim do dia, o ultimo amigo que você nunca esperava estar contigo é o que mais vai trazer coisas boas. Não que outros não tragam, é tão bom quando você não espera por nada, não se compromete á esperar das pessoas que você ama algo delas, e é dessa forma que elas te surpreendem e demonstram amor. . .
O Sono não me permite elaborar mais . . . Seja compreensivo, leitor. Seja amigo.
Estranhamente, meu dia do amigo começou com uma leve dor de estomago, este órgão temperamental. E, como parte amiga da minha sobrevivência, tive que ser compreensivo com ele e dar-lhe o tempo que ele necessita para se regularizar. Terminado esse faniquito desse amigo primal, recebi de um outro amigo - esse pessoa física, com C/C, CPF e CEP - uma mensagem instantânea pulsante na tela da minha conexão com a virtualidade a noticia que ele quer ir ao cinema com a minha companhia também física. Falei ao telefone com outro amigo, e ouvi com os olhos o problema digital de uma outra. Troquei comprimentos cordiais com outros conhecidos que transitam pelo meu mundo de recados rápidos e sonoros e fui á luta, enfrentar meu dragão do dia. Esquivada essa ligação telefônica o meu primeiro amigo do dia ainda se manifestou, fato pelo qual eu fiz meu segundo amigo esperar um pouco. Após muitas conversas chegamos á camarada sala de cinema assistindo um filme espanhol sensacional, os Inconscientes, que muito me fez bem. Pegamos uma colega do coração no caminho e sentamos no Braseiro, donde confabulamos e trocamos muitas idéias boas. Alias, muito boas. Pois amigo que é amigo fala mesmo, e tem que falar, de preferência, pra te adicionar, solver uma duvida ou expor um ponto de vista alheio á sua obstrução visual perante á vida. Inclusive, tomei uma chamada depois de um fato bem específico: Nossa amiga ia embora, pedimos a conta para reabri-la. Mas o garçon entendeu que estávamos indo embora (nada mais lógico) e ofereceu a mesa á outra pessoa. Pessoas nada amigáveis pularam na nossa mesa quando a conta quitada se foi e eu me senti acuado e, vacilando, cedi a mesa para os desesperados e desavisados. Tomei uma bela chamada dos meus amigos, que, mesmo tendo entendido que eu fui “legal” com as pessoas acham que eu tenho que impor mais minha vontade, em tudo (!) daí seguimos para tomar um café no Letras e “Depressões”. Lá o papo evoluiu mais ainda, e para minha melhor surpresa, reencontrei uma outra amiga, cúmplice de ofício artístico, que me injetou vontade, me falou sobre propósito, motivação, posicionamento, me presenteou com um poema e um livro. Um dia do amigo incrivelmente solidário e especial. O poema não é pessoal para mim, mas me foi agraciado num momento de profundo questionamento meu com outros amigos, parentes, ex-amigos, ex-colegas de profissão, e sobre tudo, comigo mesmo. Ele assim diz:
“Quando eu desejo pra você o que você deseja pra você, eu estou te amando. Quando eu desejo pra você o que eu desejo pra você, eu estou me amando através de você.”
Eu adiciono: “E vice-versa . . .”
Donde eu concluo que, nem sempre no dia do amigo o primeiro amigo é o amigo que mais vai te dar alegria, mas que no fim do dia, o ultimo amigo que você nunca esperava estar contigo é o que mais vai trazer coisas boas. Não que outros não tragam, é tão bom quando você não espera por nada, não se compromete á esperar das pessoas que você ama algo delas, e é dessa forma que elas te surpreendem e demonstram amor. . .
O Sono não me permite elaborar mais . . . Seja compreensivo, leitor. Seja amigo.
18 de julho de 2005
Passava desavisado pela frente de um aparelho televisor ligado quando me deparo com o Chico Buarque, num especial, quando ele começou a tocar uma música especialíssima:
"TERESINHA".
O primeiro me chegou, como quem vem do floristaTrouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada e, assustada, eu disse não.
O segundo me chegou, como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta, me chamava de perdida.
Me encontrou tão desarmada, que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada e, assustada, eu disse não.
O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada, também nada perguntou
Mal sei como ele se chama, mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração"
Que sacana esse Francisco. . . Essa ode ao amor de verdade, amor físico (por onde todo amor de verdade começa), amor de surge e não tem negação, é o que ficou na minha mente de como deve ser o amor. Acredito que muitas pessoas veem esse amor como uma utopia, uma pena. . .
11 de julho de 2005
Tenho vivido sob uma máxima que poderia ter saído dobrada de um pequeno papel embrulhado dentro de um biscoito da sorte de uma loja de fast food mandarim ou ainda de uma página eletrônica de citações dessas que mais parecem uma are. Na verdade, a frase me foi apresentada pelo meu sábio padrinho de casamento, e pertence ao autor de Mensagem para Garcia; Elbert Hubbart:
-“Nunca se explique. Seus amigos não precisam e seus inimigos não vão acreditar.”
Não acho que seja um mote para abandonar a educação ou se tornar insensível á preocupação alheia, porém o limite da compreensão transita pelo respeito e pelo querer bem, portanto, algumas palavras, mesmo que com muita intensão e sinceridade. O Zelo correspondente é o que importa.
O que tem me deixado contente são os retornos dos amigos de verdade. Isso me completa, me faz querer acreditar que o céu continua brilhando sobre nossas cabeças e as flores ainda caem das arvores apenas pra deixar nosso caminho árduo mais bonito e agradável.
E o Rio de Janeiro continua lindo e sendo... E o vai e vêm das meninas no Baixo Gávea, os amigos nas mesas de bar. . . Só o meu bem que está distante , mas em meu coração, sempre.
Hoje eu preciso estar carregado de energia, preciso brilhar para enriquecer aqueles que precisam do meu trabalho como entretenimento ou degustação artística. Espero que essa força me motive e me ajude.
Sem explicações, sem possessividade, sem insegurança. Apenas bem querer. Meu e recíproco. Amizade, acima de tudo.
-“Nunca se explique. Seus amigos não precisam e seus inimigos não vão acreditar.”
Não acho que seja um mote para abandonar a educação ou se tornar insensível á preocupação alheia, porém o limite da compreensão transita pelo respeito e pelo querer bem, portanto, algumas palavras, mesmo que com muita intensão e sinceridade. O Zelo correspondente é o que importa.
O que tem me deixado contente são os retornos dos amigos de verdade. Isso me completa, me faz querer acreditar que o céu continua brilhando sobre nossas cabeças e as flores ainda caem das arvores apenas pra deixar nosso caminho árduo mais bonito e agradável.
E o Rio de Janeiro continua lindo e sendo... E o vai e vêm das meninas no Baixo Gávea, os amigos nas mesas de bar. . . Só o meu bem que está distante , mas em meu coração, sempre.
Hoje eu preciso estar carregado de energia, preciso brilhar para enriquecer aqueles que precisam do meu trabalho como entretenimento ou degustação artística. Espero que essa força me motive e me ajude.
Sem explicações, sem possessividade, sem insegurança. Apenas bem querer. Meu e recíproco. Amizade, acima de tudo.
6 de julho de 2005
Ainda estou no Rio; Organizando uma leitura de textos do meu avô; com uma vontade louca de voltar pra cá, e, é claro, tentando me agenciar aqui como ator, a parte que eu realmente preciso de ajuda (o resto, eu tiro de letra, como diria o Sábio Pedro Xavier Borges de tão fácil "sai no xixí").
Amigo paulistano, não desanime, é só uma rebordosa de vários fatores. São Paulo me foi acolhedora, porém cara e sem promessa de trabalho forte na minha área. Mas eu sou insistente, só estou dando fôlego para os produtores respirarem antes de inventarem outra desculpa nas recusas de chamado. Eles já gastaram todas nos últimos quatro meses.
Amigo carioca, seja mais camarada e menos "carioca"; me procure! Ao dizer que quer me ver, me veja! Se for me disser que vai me ligar, ligue! Porque eu sempre acredito, apesar de também sofrer desse mal dispersivo que essa cidade maravilhosa nos provoca. . . Mas a lua continua linda sobre Copacabana. . . E o Arpoador, com ameaça de chuva . . . Do que eu estava falando mesmo?
Amigo paulistano, não desanime, é só uma rebordosa de vários fatores. São Paulo me foi acolhedora, porém cara e sem promessa de trabalho forte na minha área. Mas eu sou insistente, só estou dando fôlego para os produtores respirarem antes de inventarem outra desculpa nas recusas de chamado. Eles já gastaram todas nos últimos quatro meses.
Amigo carioca, seja mais camarada e menos "carioca"; me procure! Ao dizer que quer me ver, me veja! Se for me disser que vai me ligar, ligue! Porque eu sempre acredito, apesar de também sofrer desse mal dispersivo que essa cidade maravilhosa nos provoca. . . Mas a lua continua linda sobre Copacabana. . . E o Arpoador, com ameaça de chuva . . . Do que eu estava falando mesmo?
22 de junho de 2005
Vim ao Rio extrair um ciso, estou de molho esses dias, com dor e testando uma placa pra segurar minha mandíbula que tava deslocando de bruxismo.
Fui ao casório do Campos, onde revi queridos amigos, festejei a união, e até fiquei feliz de ver o emprenho em tentar me mostrar desprezo que as pessoas de mente fraca controladas pela Lord Sith Darth Simanca em torno do Império Galáctico das mentiras tentaram fazer.
Que bom que elas se empenham de verdade, e quase conseguem se organizar, mesmo que seja pra serem babacas e ridículas e obedecerem a mentira maior. Mostra bem o caráter delas. Enfim, uma revelação esse casamento, adorei.
Desejo á estas pessoas exatamente o que elas desejarem pra mim, em triplo!
Vai aqui uma explicação pra todas as pessoas que tem me perguntado as mesmas coisas esse tempo todo:
1- Mudei pra São Paulo porque casei. Exclusivamente.
2- Achei que fosse rolar trabalho como ator, que rolasse um mercado alternativo e diferente, mas não tenho conseguido trabalhar na minha área.
3- E ainda não consegui trabalho. Estou ajudando á Unidade Moema como colaborador, mas não é a minha área, faço porque gosto e porque a Rede DeRose, a Uni-Yôga e as Unidades Copacabana, Botafogo e Moema sempre me apoiaram e ajudaram e merecem minha dedicação por tanta camaradagem por esses anos todos. Amo muitas pessoas da egrégora, muitas mesmo, nem cabe citar todas.
4- Vou e quero trabalhar na minha área, seja em São Paulo ou no Rio. É o que eu gosto, é como sei trabalhar, é o que me engrandece, é como sei e preciso me expressar artisticamente. Mas infelizmente não estou conseguindo em SP. Estou procurando e topando fazer qualquer trabalho artístico como ator.
Esclarecido? Assim espero.
Bjs a todos! Ainda estou essa quarta e quinta no Rio, parto provavelmente na sexta no começo da tarde pra SP...
Fui ao casório do Campos, onde revi queridos amigos, festejei a união, e até fiquei feliz de ver o emprenho em tentar me mostrar desprezo que as pessoas de mente fraca controladas pela Lord Sith Darth Simanca em torno do Império Galáctico das mentiras tentaram fazer.
Que bom que elas se empenham de verdade, e quase conseguem se organizar, mesmo que seja pra serem babacas e ridículas e obedecerem a mentira maior. Mostra bem o caráter delas. Enfim, uma revelação esse casamento, adorei.
Desejo á estas pessoas exatamente o que elas desejarem pra mim, em triplo!
Vai aqui uma explicação pra todas as pessoas que tem me perguntado as mesmas coisas esse tempo todo:
1- Mudei pra São Paulo porque casei. Exclusivamente.
2- Achei que fosse rolar trabalho como ator, que rolasse um mercado alternativo e diferente, mas não tenho conseguido trabalhar na minha área.
3- E ainda não consegui trabalho. Estou ajudando á Unidade Moema como colaborador, mas não é a minha área, faço porque gosto e porque a Rede DeRose, a Uni-Yôga e as Unidades Copacabana, Botafogo e Moema sempre me apoiaram e ajudaram e merecem minha dedicação por tanta camaradagem por esses anos todos. Amo muitas pessoas da egrégora, muitas mesmo, nem cabe citar todas.
4- Vou e quero trabalhar na minha área, seja em São Paulo ou no Rio. É o que eu gosto, é como sei trabalhar, é o que me engrandece, é como sei e preciso me expressar artisticamente. Mas infelizmente não estou conseguindo em SP. Estou procurando e topando fazer qualquer trabalho artístico como ator.
Esclarecido? Assim espero.
Bjs a todos! Ainda estou essa quarta e quinta no Rio, parto provavelmente na sexta no começo da tarde pra SP...
4 de maio de 2005
29 de abril de 2005
"Por que nome chamaremos
quando nos sentirmos pálidos
sobre os abismos supremos?
De que rosto, olhar, instante,
veremos brilhar as âncoras
para as mãos agonizantes?
Que salvação vai ser essa,
com tão fortes asas súbitas,
na definitiva pressa?
Ó grande urgência do aflito!
Ecos de misericórdia
procuram lágrima e grito,
– andam nas ruas do mundo,
pondo sedas de silêncio
em lábios de moribundo."
Cecilia Meirelles
quando nos sentirmos pálidos
sobre os abismos supremos?
De que rosto, olhar, instante,
veremos brilhar as âncoras
para as mãos agonizantes?
Que salvação vai ser essa,
com tão fortes asas súbitas,
na definitiva pressa?
Ó grande urgência do aflito!
Ecos de misericórdia
procuram lágrima e grito,
– andam nas ruas do mundo,
pondo sedas de silêncio
em lábios de moribundo."
Cecilia Meirelles
27 de abril de 2005
Ontem eu errei.
Errei em escolher algo que faço, que fiz e que quero fazer. Errei por não querer abrir mão do que acredito. Errei porque sou acomodado, porque me engano que esteja realmente fazendo algo, errei porque vivo no mundo do sonhar. Errei porque não tenho porque. Errei e não quero mais errar. Errei e não quero ser mais errado. Errei e me arrependo, mas não quero ficar arrependido, mas sim, quero aprender com o erro. Errei sim, sei que errei e sei que errei feio, errei como nunca na vida devia ter errado.
Mas também já errei antes, e sei que vou errar ainda mais um pouco, até as coisas deixarem de ser opacas e começarem a se tornarem nítidas. E preciso na próxima vez agir de forma diferente, compreensiva, ilimitada e nobre. Agora e na próxima vez serei melhor, melhor do que sou, melhor do que já fui, melhor até do que prospecto.
Não sei por onde começo, mas levantar daqui e ir fazer algo já me parece ser o caminho. E é exatamente o que estou indo fazer agora!
Errei em escolher algo que faço, que fiz e que quero fazer. Errei por não querer abrir mão do que acredito. Errei porque sou acomodado, porque me engano que esteja realmente fazendo algo, errei porque vivo no mundo do sonhar. Errei porque não tenho porque. Errei e não quero mais errar. Errei e não quero ser mais errado. Errei e me arrependo, mas não quero ficar arrependido, mas sim, quero aprender com o erro. Errei sim, sei que errei e sei que errei feio, errei como nunca na vida devia ter errado.
Mas também já errei antes, e sei que vou errar ainda mais um pouco, até as coisas deixarem de ser opacas e começarem a se tornarem nítidas. E preciso na próxima vez agir de forma diferente, compreensiva, ilimitada e nobre. Agora e na próxima vez serei melhor, melhor do que sou, melhor do que já fui, melhor até do que prospecto.
Não sei por onde começo, mas levantar daqui e ir fazer algo já me parece ser o caminho. E é exatamente o que estou indo fazer agora!
12 de abril de 2005
A Importância de seguir...
Recebo o telefone entre uma troca de mensagem com o meu amigo Felipe e com minha mulher. É o diretor de uma companhia de teatro para eventos direcionados para empresas aqui de São Paulo que trabalham com uma técnica específica e recente de Teatro.
"Daniel? È o Fulano. Estou ligando como disse que faria para dar um feedback do seu teste. Infelizmente você não passou." . e eu disse "...." (ou seja, nada disse). " O grupo entrou em consenso que tempos pouco tempo de ensaio, e existe uma linha muito tênue entre a verdade que queremos imprimir e a caricatura
Apesar de você ser um ator interessado, ter se mostrado interesse e até bastante se mostrar um bom trabalhador de equipe, o grupo achou seu trabalho mais caricato. " . Dessa vez eu consegui responder um "entendo" bem político e engolido pela vontade de chorar. Era complicado tudo isso pra mim: Sempre fui um ator de pegar trabalhos por estar envolvido com grupos teatrais ou, no máximo, fazer um teste por uma indicação ou outra. Toda essa realidade desse excesso de testes e mais testes que estou passando me é um pouco estranha.
"Eu não sei o que você pode fazer com essa informação, talvez pensar um pouco sobre isso" O Fulano continuou. Na verdade, de todos os testes que eu fiz até agora, esse era um que, salvo alguns pontos, eu tinha me encantado mais de fazer. Pagava bem, e era um trabalho teatral, apesar de diferente e com vários defeitos (como outros vários que já fiz, mas que não pagavam tão bem assim).
Agradeci a sinceridade e o feedback e ele falou mais "De qualquer forma é isso, obrigado pelo seu tempo, que você dedicou, fazendo a entrevista e o teste em si." Agradeci e disse que se houvesse uma outra oportunidade que eles poderiam me contatar "Sim, claro, Daniel, a porta não está fechada".
Fiquei muito triste ao desligar o telefone. Me engasguei com as lágrimas que ameaçavam se formar e senti um vão no lugar do chão sob meus pés. Senti que estava tentando errado, que não estou no meu ambiente, que não iria conseguir nunca trabalhar aqui, aqui até onde o trabalho dos artistas tem que ser formal e normatizado. Falei com a minha esposa por mensagem instantânea de disse que não queria falar sobre isso. Meu pai me ligou e acabei falando um pouco. Senti vontade de ligar para minha madrinha de casamento, minha grande amiga, mas segurei. Senti depois vontade de ligar para um sujeito que eu considerava amigo, mas que optou por não me ter mais ao lado dela, seja trabalhando ou como meu amigo. Respeitei essa decisão dele e liguei pra minha madrinha. Conversamos, ela me ouviu, falou aquelas coisas que falamos pros amigos nessas horas, e outras coisas pertinentes. Pensei no que ela falou, no que meu pai falou e no que eu sei que minha esposa está pensando. E agora penso com meus botões;
"Caricato". O que é ser caricato afinal ? O que é essa "verdade" que eles querem atingir? Eu não á vi lá na demonstração do grupo. Gostei mais da qualidade de integração do grupo que do trabalho artístico de cada um. Vi momentos bons, outros legais, mas de um modo geral, vi um trabalho chapado, sem cor, monocromático. O que vi era o potencial de ser uma coisa boa. E tem duas coisa que me interessaram em desejar passar .... Minto, três coisas. O grupo, o potencial e o dinheiro. Sonhei, aguardei, esperei, e a resposta chegou. Achei a resposta caricata. De um grupo que é uma caricatura de uma companhia teatral, que fazem esse Teatro-terapia para empresas. Achei que as uvas não ficaram verdes, elas sempre eram verdes, eu que as pintei de roxo na minha cabeça pra saciar minha fome. Para não ter que caminhar mais e procurar um cacho saboroso de verdade e que aceite a ser degustado por um ator "caricato". Seria a caricatura algo ruim? Não é o grande sorriso ou a grande choro das máscaras do teatro a demonstração que o artista assim pode vir a interpretar, a representar o mundo? Achei superficial o feedback. E minha intuição me diz que de verdadeiro, ele saiu por uma tangente obvia.
Conheço minhas limitações. Sei que, de um modo geral e pelos meus últimos trabalhos, não tenho seguido uma linha "realista". Mas existe muita verdade no que represento, as vezes, mais do que muitas dessa linhas. Sei porque sinto e observo quando atinjo o publico e o faço sentir. Eu vi as caras da platéia, eu percebi a simpatia do que eles viram. Claro, concordo que eles até realmente tem pouco tempo, mas acho que eles tem menos tempo agora.
Eu ca tenho comigo que eles sentiram medo. Eu tenho cá comigo que eu os mostrei, dentro da minha caricatura verdadeira que na verdade eles fazem uma verdade caricaturada, e que eles não possam acompanhar as nuanças de dilatação que eu poderia acrescentar ao repertório deles; tenho cá comigo que eles resolveram não ousar. Que eles escolheram os atores "amigos" que lá estavam, que de uma certa forma eu até entendo, eu já fui o "ator amigo" escolhido. Mas sem falsa humildade, que escolha pobre. Caricaturas de atores, que só tem em suas costas bagagem de publicidade. Caricaturas de pessoas que fingem não sonhar sair do mundinho insosso que levam. Que fingem que nada querem com emissoras de televisão nem com o estrelato. Escolhidos por um diretor que e uma caricatura de empresário, formal e, como diria o Jabour, "sem sal" e, pelas fotos que eu vi na parede, era uma caricatura de Gerald Thomas (cigarro na munheca, roupas pretas justas e cabelo grande escorrido). Ou escolhidos pelo(s) colega(s) paulistano(s), caricaturas de ator paulistano, cheios de crises mundanas e sem forma artística definida.
Mas ainda sim, estou chateado. Estou, não minto, não temo admitir, nem temo que isso não possa ser bom pra mim. As contas dessa cidade cara estão gritando para serem pagas, as datas estão estouradas, os problemas estão sem solução aparente e o ânimo anda meio desanimado. Como diria um conhecido meu - Nessas horas, respira fundo, olha pra cima, estufa o peito e fala com toda convicção: "Agora Fudeu!". e fudeu mesmo. Vou ficar como diz o Hebert na sua musica "Desempregado, endividado, sem ter onde cair morto, sem ter nem como pagar, nesse pais, nesse pais, nesse pais, que alguém me disse que era nosso, Hahahahaha".
Mas mesmo triste e sem esperança, eu continuo. Alias, a Esperança, que eu achei que poderia também ser um bom contato, não trabalha mais com isso. E outros não s que eu venho tomando esses dias de encontros com amigos aqui em São Paulo, de vontades que tenho de fazer as coisas, de outros trabalhos menos importantes, mas que ora bolas, são trabalhos. são trabalhos...
Recebo o telefone entre uma troca de mensagem com o meu amigo Felipe e com minha mulher. É o diretor de uma companhia de teatro para eventos direcionados para empresas aqui de São Paulo que trabalham com uma técnica específica e recente de Teatro.
"Daniel? È o Fulano. Estou ligando como disse que faria para dar um feedback do seu teste. Infelizmente você não passou." . e eu disse "...." (ou seja, nada disse). " O grupo entrou em consenso que tempos pouco tempo de ensaio, e existe uma linha muito tênue entre a verdade que queremos imprimir e a caricatura
Apesar de você ser um ator interessado, ter se mostrado interesse e até bastante se mostrar um bom trabalhador de equipe, o grupo achou seu trabalho mais caricato. " . Dessa vez eu consegui responder um "entendo" bem político e engolido pela vontade de chorar. Era complicado tudo isso pra mim: Sempre fui um ator de pegar trabalhos por estar envolvido com grupos teatrais ou, no máximo, fazer um teste por uma indicação ou outra. Toda essa realidade desse excesso de testes e mais testes que estou passando me é um pouco estranha.
"Eu não sei o que você pode fazer com essa informação, talvez pensar um pouco sobre isso" O Fulano continuou. Na verdade, de todos os testes que eu fiz até agora, esse era um que, salvo alguns pontos, eu tinha me encantado mais de fazer. Pagava bem, e era um trabalho teatral, apesar de diferente e com vários defeitos (como outros vários que já fiz, mas que não pagavam tão bem assim).
Agradeci a sinceridade e o feedback e ele falou mais "De qualquer forma é isso, obrigado pelo seu tempo, que você dedicou, fazendo a entrevista e o teste em si." Agradeci e disse que se houvesse uma outra oportunidade que eles poderiam me contatar "Sim, claro, Daniel, a porta não está fechada".
Fiquei muito triste ao desligar o telefone. Me engasguei com as lágrimas que ameaçavam se formar e senti um vão no lugar do chão sob meus pés. Senti que estava tentando errado, que não estou no meu ambiente, que não iria conseguir nunca trabalhar aqui, aqui até onde o trabalho dos artistas tem que ser formal e normatizado. Falei com a minha esposa por mensagem instantânea de disse que não queria falar sobre isso. Meu pai me ligou e acabei falando um pouco. Senti vontade de ligar para minha madrinha de casamento, minha grande amiga, mas segurei. Senti depois vontade de ligar para um sujeito que eu considerava amigo, mas que optou por não me ter mais ao lado dela, seja trabalhando ou como meu amigo. Respeitei essa decisão dele e liguei pra minha madrinha. Conversamos, ela me ouviu, falou aquelas coisas que falamos pros amigos nessas horas, e outras coisas pertinentes. Pensei no que ela falou, no que meu pai falou e no que eu sei que minha esposa está pensando. E agora penso com meus botões;
"Caricato". O que é ser caricato afinal ? O que é essa "verdade" que eles querem atingir? Eu não á vi lá na demonstração do grupo. Gostei mais da qualidade de integração do grupo que do trabalho artístico de cada um. Vi momentos bons, outros legais, mas de um modo geral, vi um trabalho chapado, sem cor, monocromático. O que vi era o potencial de ser uma coisa boa. E tem duas coisa que me interessaram em desejar passar .... Minto, três coisas. O grupo, o potencial e o dinheiro. Sonhei, aguardei, esperei, e a resposta chegou. Achei a resposta caricata. De um grupo que é uma caricatura de uma companhia teatral, que fazem esse Teatro-terapia para empresas. Achei que as uvas não ficaram verdes, elas sempre eram verdes, eu que as pintei de roxo na minha cabeça pra saciar minha fome. Para não ter que caminhar mais e procurar um cacho saboroso de verdade e que aceite a ser degustado por um ator "caricato". Seria a caricatura algo ruim? Não é o grande sorriso ou a grande choro das máscaras do teatro a demonstração que o artista assim pode vir a interpretar, a representar o mundo? Achei superficial o feedback. E minha intuição me diz que de verdadeiro, ele saiu por uma tangente obvia.
Conheço minhas limitações. Sei que, de um modo geral e pelos meus últimos trabalhos, não tenho seguido uma linha "realista". Mas existe muita verdade no que represento, as vezes, mais do que muitas dessa linhas. Sei porque sinto e observo quando atinjo o publico e o faço sentir. Eu vi as caras da platéia, eu percebi a simpatia do que eles viram. Claro, concordo que eles até realmente tem pouco tempo, mas acho que eles tem menos tempo agora.
Eu ca tenho comigo que eles sentiram medo. Eu tenho cá comigo que eu os mostrei, dentro da minha caricatura verdadeira que na verdade eles fazem uma verdade caricaturada, e que eles não possam acompanhar as nuanças de dilatação que eu poderia acrescentar ao repertório deles; tenho cá comigo que eles resolveram não ousar. Que eles escolheram os atores "amigos" que lá estavam, que de uma certa forma eu até entendo, eu já fui o "ator amigo" escolhido. Mas sem falsa humildade, que escolha pobre. Caricaturas de atores, que só tem em suas costas bagagem de publicidade. Caricaturas de pessoas que fingem não sonhar sair do mundinho insosso que levam. Que fingem que nada querem com emissoras de televisão nem com o estrelato. Escolhidos por um diretor que e uma caricatura de empresário, formal e, como diria o Jabour, "sem sal" e, pelas fotos que eu vi na parede, era uma caricatura de Gerald Thomas (cigarro na munheca, roupas pretas justas e cabelo grande escorrido). Ou escolhidos pelo(s) colega(s) paulistano(s), caricaturas de ator paulistano, cheios de crises mundanas e sem forma artística definida.
Mas ainda sim, estou chateado. Estou, não minto, não temo admitir, nem temo que isso não possa ser bom pra mim. As contas dessa cidade cara estão gritando para serem pagas, as datas estão estouradas, os problemas estão sem solução aparente e o ânimo anda meio desanimado. Como diria um conhecido meu - Nessas horas, respira fundo, olha pra cima, estufa o peito e fala com toda convicção: "Agora Fudeu!". e fudeu mesmo. Vou ficar como diz o Hebert na sua musica "Desempregado, endividado, sem ter onde cair morto, sem ter nem como pagar, nesse pais, nesse pais, nesse pais, que alguém me disse que era nosso, Hahahahaha".
Mas mesmo triste e sem esperança, eu continuo. Alias, a Esperança, que eu achei que poderia também ser um bom contato, não trabalha mais com isso. E outros não s que eu venho tomando esses dias de encontros com amigos aqui em São Paulo, de vontades que tenho de fazer as coisas, de outros trabalhos menos importantes, mas que ora bolas, são trabalhos. são trabalhos...
26 de fevereiro de 2005
"Um dia você aprende" Shakespeare
Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão...E acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se...E que companhia nem sempre significa segurança. E você começa a aprender que beijos não são contratos...E presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas, com cabeça erguida e olhos adiante... Com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. Descobre que leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, E que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida. E o que importa, não é o que se tem, mas quem você tem na vida. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa, são tomadas de você muito depressa...Por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que a maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas... Do que com quantos aniversários você já celebrou. Aprende que nunca deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes... e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que com a mesma severidade que julga...Você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.Portanto plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar, que realmente é forte... E que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor...
E que você tem valor diante da vida!
Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão...E acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se...E que companhia nem sempre significa segurança. E você começa a aprender que beijos não são contratos...E presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas, com cabeça erguida e olhos adiante... Com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. Descobre que leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, E que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida. E o que importa, não é o que se tem, mas quem você tem na vida. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa, são tomadas de você muito depressa...Por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que a maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas... Do que com quantos aniversários você já celebrou. Aprende que nunca deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes... e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que com a mesma severidade que julga...Você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.Portanto plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar, que realmente é forte... E que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor...
E que você tem valor diante da vida!
13 de fevereiro de 2005
Resumo:
Sankhya é
o darshana (ponto de vista) do hinduísmo que procura pelo
conhecimento teórico a libertação.
Para alcançar o estado de libertação denominado
kaivalya, a consciência faz o caminho de volta da criação: o retorno ao discernimento
entre Púrusha (essência individual do homem, o Self) e
Prakrití (natureza universal, substância primordial, origem de todo o
universo fenomênico). Vale notar que nos referimos à criação do mundo como um
ato psíquico, que não acontece no tempo e no espaço. Púrusha é a essência final
(ou primitiva) do homem. Consciência pura, ele é o observador imóvel que
contempla em silêncio o movimento da Prakrití. Ele é distinto e independente. O
Púrusha é o motor imóvel da Prakrití, a natureza primordial.
A Prakrití é a única que se manifesta. Ela o faz
por influência do Púrusha e através da emissão de um princípio (tattwa). Este
princípio gera outro princípio e, assim, forma uma névoa de manifestação que
esconde o Púrusha, embora ele permaneça impassível diante de tal espetáculo de
transmutação. Os tattwa são, portanto, etapas da manifestação do universo. Cada
etapa, cada tattwa deve ser superada ou transcendida para que este alcance,
novamente, o Púrusha.
O primeiro tattwa, a primeira manifestação da
Prakrití, é chamada Buddhi, inteligência pura e informal, supra-racional e
supra-individual, que consegue discriminar o Púrusha da Prakrití. Buddhi se
desdobra em Ahamkara, o ego, a noção do eu, que introduz na consciência a
oposição entre sujeito e objeto. A partir daí, inicia-se a grande confusão,
pois o ego, que é Prakrití, natureza, pensa que é Púrusha, consciência. Ou
seja, ele confunde o self com os estados psicomentais. A partir de então a
Prakrití se manifesta em fenômenos objetivos e psicofisiológicos que se
diferenciam pela fórmula dos guna (atributos), isto é, de acordo com a
predominância de cada guna, que são: sattwa, rajas e tamas.
O guna sattwa tende à iluminação, rajas gera
atividade e movimento e tamas é o fator de resistência e obstrução. Qualquer
coisa se esforça por realizar o seu estado "sáttvico", seu ser,
superando sua condição "tamásica", inerte, através do esforço
"rajásico", ativo, de vencer obstáculos. Tais atributos nunca se
anulam, estão sempre presentes em toda manifestação de prakrití, mas têm uma
relação de equilíbrio e tendência. O púrusha, por não ser parte da prakrití,
não possui atributos.A ignorância do eu ("ego") é a causa de todo
sofrimento. O objetivo do Sankhya é suprimir o sofrimento ou as confusões
da consciência através da libertação (Moksha). Não cabe a essa filosofia
questionar o "porquê" da confusão entre consciência e manifestação e
aí está a sua praticidade. Tal questionamento é inútil, pois ultrapassa a
capacidade da compreensão humana. O objetivo desse dárshanas é fazer o caminho
inverso através dos tattwas, superando cada etapa, alcançando estados de
consciências mais elevados até superá-los, superando o eu ("ego") e
vislumbrando o discernimento entre Púrusha e Prakrití.
É importante esclarecer que a Prakrití não tem um
fim em si. Sua finalidade é o Púrusha. Sua manifestação afasta o homem de seu
conhecimento real, mas deixa sempre o caminho livre para aquele que é capaz de
enxergar o caminho da libertação. O "instinto" da Prakrití é orientado
para a libertação do Púrusha, como se tudo fosse um grande espetáculo cíclico
cuja razão de ser não somos capazes de compreender.
Texto:
O termo Sankhya quer dizer, literalmente, número;
e possui diversos significados, tais como, enumeração, busca, análise, cálculo,
ato de examinar, discriminação e investigação das categorias da existência. As
duas características principais desse sistema são a ordem de classificação de
seus 24 princípios (tattwas) e a dissociação, ou discriminação, entre o Púrusha
(Ser Humano) e a Prakriti (Natureza). Em síntese, o Sankhya é classificado como uma
filosofia naturalista, já que toda a sua estrutura se
fundamenta nas leis da natureza.
As origens do Sankhya, segundo o historiador Mircea
Eliade, “antes dele ter se transformado num darshana, devem ser procuradas na
análise dos elementos constitutivos do homem, com o objetivo de distinguir
dentre aqueles que o abandonam na morte e aqueles que o acompanham para além dela”.
(Yoga Inmortalidad y Libertad, pág. 22). Um estudo semelhante
encontra-se no Satapatha Brahmana (X, 1,3,4), que divide o ser
humano em três partes imortais e três partes mortais. Essa filosofia pode ser
sintetizada como uma tentativa do homem em compreender a sua existência,
explicando-a segundo leis naturais; e na dissociação entre algo que é mutável
e aquilo que permanece imutável em todos os seres e por trás de todos os
processos da Natureza.
Outras ideias remotas do Sankhya podem ser
encontradas em textos do período vêdico. A divisão do Universo entre Púrusha e
Prakriti é mencionada no Rig Vêda (X, 90.5), no qual o
primeiro tem caráter masculino e o segundo, feminino. Alguns hinos doRig
Vêda (X, 129, 221) falam sobre a evolução do Universo de um modo
semelhante à evolução do Sankhya Clássico. Os três gunas são citados no Atharva
Vêda (X, 8, 43): “os homens que possuem a sabedoria conhecem aquele
ser, o Púrusha, que reside no lótus de nove portas (o corpo humano), revestido
pelas três qualidades (gunatraya)”.
Também encontramos referências em algumas Upanishads,
e também em várias partes do Mahábhárata, tais como na Bhagavad
Gítá, na Anu Gítá e no Môkshadharma (nos
quais o Sankhya está intimamente ligado ao Yoga). Na maioria desses textos,
entretanto, o Sankhya é definido, em linhas gerais, como qualquer tipo
de conhecimento filosófico.
Segundo as fontes hindus, o Sankhya foi
sistematizado por Kapila, personagem tradicionalmente muito conhecido, porém
historicamente contraditório. Nas escrituras que o citam, por exemplo, a Swêtaswatara
Upanishad (V,2), ele é identificado com o nome de Hiranyagarbha, um
dos nomes de Brahma. Ainda, no mesmo texto, diz-se que ele é uma personificação
de Vishnu. E mais, noutras Upanishads, Kapila é colocado como sendo
o próprio Shiva, o criador do Yoga.
A obra mais antiga sobre o Sankhya é um livro
chamado Sasti Tantra, classificado como o ensinamento dos
seis tópicos ou, ainda, como o livro das sessenta frases.
Entretanto, tais registros foram perdidos no tempo e hoje não passam de mitos.
Esse é o Sankhya Pré-Clássico.
Um dos livros mais famosos é o Sankhya
Kariká (significa, literalmente, estrofes do discernimento)
de Íshwarakrishna. A maioria dos pesquisadores concorda que sua redação é do
século ii d.C. Nos
sútras finais dessa obra está registrado que, como tradição oral, Kapila
revelou o conhecimento a Asuri, que passou a Pañchasikha e, por sua vez,
transmitiu a Íshwarakrishna, quem, finalmente, o colocou na forma
de tradição escrita, o Sankhya Kariká.
Como no caso do Yoga Clássico, essa codificação se
tornou um dos trabalhos mais importantes e o mais aceito, a partir do qual o Sankhya
elevou-se à categoria de darshana do hinduísmo. Eis, assim, o Sankhya Clássico.
Tal filosofia teve uma grande força até a época de
Shankarachárya (788-820 d.C.). Depois dessa época sobreviveu em constante
declínio, até que no século quinze experimentou um renascimento, quando foi
composto o Sankhya Pravachana Sútra. Daí por diante, o Sankhya
passou a coexistir com idéias teístas, já que o Vêdánta, difundido alguns
séculos antes por Shankarachárya, já se encontrava bastante arraigado na
sociedade hindu. A partir de então, o Sankhya pôde ser classificado como
Moderno.
Segundo o Mahábhárata, há três
variantes de Sankhya. A primeira, mais antiga, tem vinte e quatro princípios; a
outra, vinte e cinco; e a terceira, vinte e seis. Essa última
categoria inclui Púrusha e Íshwara; a variante anterior exclui Íshwara, e a
mais antiga nem menciona esses dois princípios. As categorias de 24
ou de 25 princípios são denominadas de NírishwaraSankhya, enquanto a mais
moderna, de 26 princípios, é designada por SêshwaraSankhya
Obs: Quando Pátañjali no século iii a.C. fez a codificação do Yoga,
foram introduzidos alguns conceitos teístas em sua obra. A filosofia Sankhya,
que até então era de um só tipo, passou a ser dividida e qualificada de
Niríshwara-Sankhya e Sêshwara-Sankhya.
O ciclo
Existencial
O hinduísmo apresenta-nos um conceito chamado dúhkha
traya, que significa, o triplo infortúnio existencial. Isso diz
respeito à conscientização de que estamos todos presos no ciclo
existencial, o samsára, cujo movimento não tem fim. Vejamos como o Sankhya
analisa essa “miséria existencial”, que possui três raízes ou causas
principais.
A primeira raiz se encontra na relação do ser
humano com seus semelhantes. Cada um sofre, em maior ou menor grau, de algum
tipo de carência, seja física, emocional ou mental. Também cada um precisa
competir por melhores posições na sociedade e, por isso, tem de se condicionar
aos costumes e regras estabelecidos pelo dharma (lei humana ou social), na
maioria das vezes, não pertinente com o âmago da natureza.
A segunda causa se acha na relação do indivíduo com
outros seres da natureza, tais como os animais selvagens e os microorganismos
desconhecidos que lhe trazem enfermidades e morte prematura. Muitas vezes é a
nossa própria sociedade que se permite desenvolver novas bactérias e vírus,
dando origem a doenças cada vez mais sofisticadas.
Já a terceira raiz é a relação do homem com as
forças da natureza (o homem está sempre infeliz, ora queixando-se do calor, ora
do frio, ora da chuva, etc). Ainda pode acontecer uma seca intensa, uma
enchente, um terremoto, um furacão, enfim, os grandes cataclismas do planeta.
Evidentemente, existem meios específicos para
contornar todas as situações; principalmente, em função do rápido
avanço tecnológico e científico que traz mais conforto e uma maior expectativa
de vida. Entretanto, os problemas continuarão a surgir, soluções aparecerão e
novas questões virão (antes, a peste; depois, o câncer; aids e,
amanhã, o que mais será?).
Por outro lado, temos ainda as propostas das
religiões ou também de um estado político-social organizado. Conceitos e
paradigmas nos vão sendo impostos por uma cultura que, na maioria das vezes, castra nossas
maiores possibilidades. Quando observada de um outro ângulo, a esperança
proporcionada pelo acreditar, seja na justiça divina, seja na ordem social,
apenas nos permite orbitar na periferia.
A maioria desses caminhos são considerados
simplórios e não passam de um remédio paliativo de breve validade. É como se
apenas podássemos os galhos de uma árvore. Ela continuará de pé, sustentada
pelas suas raízes, de onde partirão novos ramos e flores, cujos frutos um dia
retornarão à terra, cujas sementes produzirão novas árvores... E é a terra que
fornece o alimento mas também o que aprisiona o homem ao eterno movimento
cíclico da Natureza. Dentro de uma esfera que não pára de girar, somos
arrastados ora para cima, ora para baixo, num jogo interminável.
A paz e a tranqüilidade nada mais são do que a
lacuna entre os conflitos e o sofrimento. A segurança e a riqueza andam numa
corda-bamba; e num instante se está feliz, noutro, infeliz. Seja quem for, faça
o que fizer, tenha o que tiver, todos os homens estarão insatisfeitos. Todos
trazem em si uma espécie de inquietação e de agitação internas causadas pelo
ciclo perpétuo da Natureza.
A intensidade dessas sensações é proporcional ao
plano de existência em que esteja cada indivíduo. Às criaturas chamadas
inferiores, nada disso tem razão de ser, por exemplo, uma planta, um inseto ou
um cão, que amoldam-se ao seu meio natural.Mas quer sejam seres racionais, quer
sejam irracionais, o fato é que todos estamos juntos nas cadeias do nascimento
e da morte, aprisionados pelo ciclo existencial, por sua vez caracterizado pela
lei de causa e efeito, o karma.
Pátañjali escreve no Yoga Sútra (cap.
II: vers. 12-15): “O karma tem suas raízes nos obstáculos e é experimentado
tanto no nascimento objetivo quanto subjetivo. Permanecendo a existência das
raízes, permanecem as conseqüências (kármicas) que vão determinar tudo: o
nascimento, a própria vida e as suas experiências. Estas produzem alegria ou
dor, conforme sua causa seja virtude ou vício. Para o discriminativo, tudo
provoca a dor, seja devido à antecipação do sentimento de perda, ou a novos
desejos produzidos pelos samskáras, ou ainda, a conflitos entre os gunas.”
Imaginemos um homem como um grão de areia se
comparado à Terra, a qual nada mais é do que um ponto no sistema solar. Esse,
por sua vez, é ínfimo dentro da via-láctea, que também não passa de um
minúsculo ponto em relação ao aglomerado de galáxias; assim, ad infinitum.
Para cada um desses elementos é atribuído um período de vida, desde uma célula
até uma estrela.
Os darshanas, as escolas de filosofia hindu, procuram
uma saída na qual o ser humano possa libertar-se do movimento incessante da
roda existencial, cujas percepções, vivências e transformações encontram-se
limitadas espacialmente e condicionadas à temporalidade.
Gaudapáda comentando o Sankhya Kariká (vers.II),
diz: “Numerosos milhares de Indras (uma das primeiras divindades arianas), de
era para era, com o tempo desaparecem, pois o tempo é invencível”. Seja através
de uma árvore centenária, de um inseto que vive alguns meses ou de uma galáxia
de bilhões de anos, nossas percepções habituais estão lacradas pelas dimensões
de tempo e espaço.
Em relação ao homem, a forma como ele se apresenta,
com sua personalidade distinta, com seus desejos particulares ou coletivos, com
suas tendências genéticas, instintivas, emocionais e mentais, tudo isso está
incluso nessa mesma esfera sem saída, dentro da qual tudo nasce, se desenvolve,
se desfaz e se transforma.
Para que compreendamos nosso ciclo existencial e,
consequentemente, encontremos uma saída para esse drama cósmico, devemos começar
a nos desapegar (ou nos desprender) de máyá. Máyá, que significa ilusão, é onde
atuam os pares de opostos, tais como: bem e mal, belo e feio, dia e noite,
certo e errado, homem e mulher, alegria e tristeza, prazer e dor, vida e morte,
etc.
Observada sob o nosso parâmetro humano, toda
dualidade é uma realidade. Porém, quando a dualidade é vista sob uma grande
angular, tudo aquilo que aos nossos sentidos humanos aparece como pólos
distantes, na verdade, são pontos de um mesmo extremo!
Na Bíblia (Gênesis, ii: 8-17) está escrito: “E o Senhor Deus tinha produzido da
terra todo tipo de árvores formosas e de frutos doces para comer; e havia
também a árvore da vida no meio do paraíso, e a árvore da ciência do bem e do
mal... E, deu-lhe este preceito, dizendo: ‘coma os frutos de todas as árvores
do Paraíso, mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal’.”
(Aqui não há nenhuma menção à maçã criada pelo folclore. Na
verdade, tal árvore representa o conhecimento do bem e do mal, ou seja, a dualidade,
o grande pecado do homem). No Dhammapáda,
escritura clássica do budismo, é atribuída ao Buda a seguinte frase: “Aquele
que venceu as cadeias do mal, mas também venceu as cadeias do bem, lhe chamo
eu, Brahmane.” Assim, essas duas obras, de tradições diferentes, dizem respeito
à transcendência dos opostos, na qual o indivíduo deve ser, simplesmente, como
a Natureza o criou.
Em suma, existem três maneiras para enfrentar o
ciclo existencial: resignar-se conscientemente, caminhar em direção à saída, ou
ainda, conciliar essas duas opções. A partir do momento em que compreendemos
as leis e os mecanismos que regulam o funcionamento do nosso Universo teremos
mais acesso à libertação e rumaremos finalmente ao paraíso, dimensão
do aqui e do agora, além das fronteiras do tempo e do espaço.
Os Níveis de
Evolução na Natureza
Para algumas correntes do Sankhya não-sistemático,
existem seis principais estágios, níveis ou planos de evolução na Natureza. E
cada um deles se manifesta através de estados de consciência, do mais denso ao
mais sutil.
Estágios Evolutivos
|
Estágios de Consciência
|
Adepto (Yogi)
|
Púrusha
|
Iniciado (Yogin)
|
Intuicional
|
Hominal
|
Mental
|
Animal
|
Emocional
|
Vegetal
|
Energético
|
Mineral
|
Físico Denso
|
Grande parte dos Homo sapiens é,
basicamente, guiada por instintos e emoções. Por questões de sobrevivência e
adaptação, desenvolvemos gradativamente um cérebro mais sofisticado que o das
outras espécies. Temos tecnologia avançada, mas estamos num nível de
consciência apenas relativa e ligeiramente superior ao da maioria dos animais.
Imagine que partimos da Terra no cesto de um balão.
À medida que ele vai subindo, começamos a enxergar as coisas de longe, por
exemplo, as estradas, os campos, as montanhas, depois a curvatura da Terra, etc.
Também, quando o balão vai retornando e aproximando-se do solo, começamos a
enxergar a floresta, depois uma árvore e suas folhas, uma formiga, uma gota de
orvalho, etc. De maneira semelhante, acontecerá com a percepção de cada
indivíduo, que poderá situar-se num determinado
ângulo de observação; mais acima ou mais abaixo, mais distante ou mais próximo,
dentro da realidade de cada ponto de vista.
Por meio dos nossos cada vez mais potentes
telescópios ou microscópios chegamos às profundezas do sem-fim. Vemos que nada
encontra-se fora dos limites da Natureza, dentro da qual nada se perde,
nada se cria e tudo se transforma.
Quando, por exemplo, uma pessoa morre e o seu corpo
físico mais denso se dissolve na terra, com o tempo vai se integrando à
estrutura química de outras formas minerais, vegetais e animais. Seus átomos,
sua energia, suas emoções e seus pensamentos liberados à natureza à princípio
se dispersarão, contudo perdurarão até se integrar às outros seres animados ou
inanimados.
A morte é temida pelo indivíduo, mas é
indispensável à continuidade da espécie. É graças a ela que cada ser
proporciona a possibilidade de nascimento a outros seres. E tanto a morte
quanto a vida pertencem ambas à mesma realidade do samsára, o ciclo
existencial.
Ao gerar um filho, o homem transmite ao seu
sucessor uma extensa combinação genética com as informações dos seus milhares
de anos como espécie humana, incluindo até as formas primitivas de vida em
nosso planeta, de bilhões de anos. Existe uma conexão intrínseca que nos une a
todos os seres terrestres, marinhos e aéreos, a todas as formas existentes na
Terra e além dela, a todas as estrelas da nossa galáxia e a todo o universo.
Somos filhos da Natureza, gerados e nutridos por
ela e tudo que está contido nela faz parte de nós mesmos. Levando
nossas percepções a estágios mais altos, veremos tudo como uma só família. E
saberemos que não existem diferenças entre uma pedra,uma flor, um pássaro, um
rio, uma estrela distante e nós, seres humanos.
Os Gunas
Guna significa qualidade. Refere-se às
qualificações de determinados estágios na Natureza. Existem três tipos de
qualidades (gunatraya): tamas, rajas e sattwa.
A diversidade e a complexidade do que concebemos
por meio dos nossos sentidos são devidas à interação, alteração e às variações
desses três elementos que se mesclam, apoiam-se e nunca atuam separadamente.
Em resumo, tamas significa inércia; rajas, movimento
e sattwa estabilidade. Suas funções são, respectivamente, a de limitar, a de
ativar e a de manifestar a consciência através dos seus mais variados veículos.
Os gunas estão sempre presentes em todos os planos
e seres da Natureza, embora em proporções desiguais, e são os responsáveis pela
diversidade dos fenômenos, de maneira que jamais existirão duas formas ou dois
indivíduos exatamente idênticos. Ilustremos com alguns exemplos.
Observe o funcionamento desses três gunas atuando
numa árvore. Tamas seria a raiz que a sustenta na terra firme; rajas, o
princípio que levaria o alimento pelos troncos e galhos; e sattwa, aquele que
formaria as flores e os frutos. Esses últimos, por sua vez, gerariam novas e
diferentes árvores através das suas sementes que caíssem e brotassem do solo,
mantendo assim, o ciclo existencial interminável de nascimentos e mortes.
Noutra explanação, vejamos como esses três gunas
podem atuar no ser humano.
O guna tamas revela ignorância, insensibilidade,
crueldade e inércia, bem como falta de desejos, apetites e emoções.
Psicologicamente, é causa de melancolia, cansaço e preguiça. É o
desconhecimento total das outras realidades do universo. Entretanto, apesar de
seus adjetivos negativos, é o princípio que dá coesão e estrutura aos outros dois.
Assim, pode ser simbolizado no corpo humano pelos ossos e pele que atuam como
base e suporte. Sem tamas os outros gunas não teriam onde atuar.
O guna rajas prepondera naquelas pessoas que são
ativas, apaixonadas, agitadas e instáveis. É representado no corpo humano pelos
músculos e membros, proporcionando, principalmente, reflexos rápidos. Esse guna
incita aos desejos, aos desagrados, às rivalidades e também dá a capacidade
para transpor quaisquer obstáculos. Está sempre associado ao sofrimento, pois a
necessidade de se estar em frenética atividade, induz à dispersão, à
falta de entendimento das leis da Natureza.
O guna sattwa atua no homem como um estado de
compreensão, satisfação, tranqüilidade, reflexão, alegria e felicidade. Pode
ser simbolizado dentro do corpo humano pela cabeça. É associado à inteligência
e à intuição; assim como também à vitalidade, à saúde, à juventude, à perfeição
e à beleza. Outra função é a de revelar a essência dos demais níveis, já que
facilita a percepçãode estados mais sutis da matéria.
A cada momento um dos gunas prepondera sobre os
outros. O guna de menor participação, num determinado fenômeno, se associará ao
de maior destaque, sendo obrigado a adotar a direção desse último e a
contribuir para o seu funcionamento. O guna rajas, por exemplo, está presente
mesmo numa rocha, ainda que, aparentemente, paralisado. Apesar de terem
propriedades contraditórias, os gunas cooperam, mesclam-se e opõem-se entre si
e nenhum deles pode ser considerado mais importante ou mesmo ter o poder
de aniquilar os outros dois.
Outros
princípios do Sankhya
Existem mais três importantes conceitos do
pensamento Sankhya: karma, dharma e egrégora
Karma, Dharma
e egrégora
O termo karma traduz-se por ação e
refere-se à lei de ação e reação. Dharma traduz-se por lei e
se refere basicamente às leis humanas, regidas pelos costumes, pela época e
pelo lugar; e que, por isso, muitas vezes entram em choque com a lei do karma.
Essas duas leis atuam com intensidade no ser humano. Estão interligadas mas não
devem ser confundidas.
Karma é um conceito que nasceu nos primórdios da
Índia antiga. Dependendo do contexto e da linha de pensamento do hinduísmo em
que se enquadre, poderá sofrer distintas interpretações. No geral, a massa
popular vê esse princípio sob a lente do teísmo Vêdánta e não, como nas
origens, segundo o naturalismo Sankhya.
Existe até uma interpretação de karma adaptada à
nossa cultura ocidental, com grande influência judaico-cristã.
Nela, a idéia de karma passou a ter a configuração de algo ruim, uma espécie de
fatalismo que precisa pagar-se com sofrimento. De outras vezes, nessa mesma
maneira de enxergar as coisas, há uma desculpa e uma resignação referente
àquilo que não se pode alterar ou, em geral, que não se tem coragem para mudar.
A pura lei do karma é simplesmente mecânica e não
espiritual. Nem sequer moral. Independe de fundamentação reencarnacionista ou
até mesmo teísta. Refere-se a um mecanismo da própria natureza. Uma espécie de
lei da gravidade muito distante do fatalismo que lhe atribuímos.
Comparando a lei do karma com a lei da gravidade,
vamos concluir que as duas têm muito em comum. Se você cospe para cima,
recebe a cusparada na cara. Não foi castigo. Nenhuma divindade interrompeu seus
afazeres macrocósmicos para punir o hominídeo que teria feito algo ‘errado’. Se
você ignora a lei da gravidade e segue caminhando numa trilha em que haja um
grande fosso, cairá nele. Machucar-se-á. Sendo ignorante da lei da gravidade,
vai ficar se lamentando pelos ferimentos e irá atribuí-los à vontade dos deuses
ou dos demônios. Precisará cair outras e outras vezes, até aprender que não
está se contundindo pelo desígnio de deuses ou maus espíritos, e sim porque há
uma lei natural, a lei da gravidade, que o faz cair no fosso. Aprendida a
lição, ao se deparar com o buraco à sua frente, você não continuará caminhando
desavisadamente em direção a ele. Vai contorná-lo, saltá-lo, colocar uma ponte
ou descer o fosso por um lado e subir pelo outro. Enfim, tomará alguma medida
dentre as tantas alternativas que existem para cada caso, mas não cairá mais
por ignorância da lei. Com o karma, é exatamente da mesma forma.
Enquanto a lei do karma pode ser aplicada
igualmente a um ateu do século xxi,
a um muçulmano do século quinze, a um centurião romano, ou a um troglodita
pré-histórico; a lei do dharma “depende das normas de um determinado país,
região, cidade, grupo cultural e de uma determinada época. Mudando o tempo ou
mudando o lugar, as regras mudam. O dharma depende dos costumes (mores,
em latim).”
Podemos dizer que enquanto o karma diz respeito à
relação entre o ser humano consigo próprio, o dharma nos é imposto pelo meio em
que vivemos. Quando esta lei atua sobre aquela, temos o karma individual e o
karma coletivo. “O karma individual é o denominador comum entre os diversos
karmas coletivos que atuam sobre nós o tempo todo, desde antes de nascermos até
depois de morrermos. Os karmas coletivos nos são impostos por herança, em
função da família à qual pertençamos, do local em que nascemos, nossa nação,
cidade, bairro, etnia, religião, etc.; ou por opção, como profissão, esporte,
arte, política, filosofia e outros. Quantos karmas coletivos atuam sobre nós?
Um número indeterminado, porém, certamente, incomensurável. E, como eles atuam
sobre nós? Atuam através de uma energia bem mais palpável, denominada
egrégora.”
“Egrégora provém do grego egrégoroi e
designa a força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais
de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade. Todos os
agrupamentos humanos possuem suas egrégoras características: todas as empresas,
clubes, religiões, famílias, partidos, etc.”
“Egrégora é como um filho coletivo,
produzido pela interação "genética" das diferentes pessoas
envolvidas. Se não conhecermos o fenômeno, as egrégoras vão sendo criadas a
esmo e os seus criadores tornam-se logo seus servos, já que são induzidos a
pensar e agir sempre na direção dos vetores que caracterizaram a criação dessas
entidades gregárias. Serão tanto mais escravos quanto menos conscientes
estiverem do processo. Se conhecermos sua existência e as leis naturais que as
regem, tornamo-nos senhores dessas forças colossais.”
“Por axioma, um ser humano nunca vence a influência
de uma egrégora caso se oponha frontalmente a ela. A razão é simples. Uma
pessoa, por mais forte que seja, permanece uma só. A egrégora acumula a energia
de várias, incluindo a dessa própria pessoa forte. Assim, quanto mais poderoso
for o indivíduo, mais força estará emprestando à egrégora para que ela
incorpore às dos demais e o domine.”
“A egrégora se realimenta das mesmas
emoções que a criaram. Como ser vivo, não quer morrer e cobra o alimento aos
seus genitores, induzindo-os a produzir, repetidamente, as mesmas emoções.
Assim, a egrégora gerada por sentimentos de revolta e ódio, exige mais revolta
e mais ódio. (...) Já a egrégora criada com intenções sãs, tende a induzir seus
membros a continuar sendo saudáveis. A egrégora de felicidade, procura
‘obrigar’ seus amos a permanecer sendo felizes.”
Tattwa significa princípio. Por meio
desse conceito o Sankhya ganha uma conotação mais sistemática, justificando o
seu caráter técnico e numérico. Os tattwas constituem a espinha
dorsal da filosofia Sankhya.
Existem 24 tattwas, comuns a todas as escolas do Sankhya.
A Prakriti é o primeiro tattwa, a causa primeira. Ela contém necessariamente
tanta ou mais realidade que os seus efeitos.
A matéria, que percebemos através de nossa
perspectiva hominal, nada mais é do que uma manifestação já existente,
indiferenciada no primeiro tattwa. Numa ilustração: quando batemos creme de
leite até transformá-lo em manteiga, podemos dizer que o produto final, a
manteiga, já se encontrava potencialmente presente no leite, conquanto em outro
estado. Tudo se diferencia, tudo se transmuta, podendo evoluir dos estágios
mais densos até os estágios mais sutis da Natureza.
[2] Nem todas as escolas do Sankhya seguem o
mesmo modelo de estruturação dos tattwas. Utilizam-se pequenas variações e
diferentes interpretações, mas que muito pouco interferem na essência dessa
filosofia.
O Púrusha
Púrusha significa literalmente homem.
Assim como Prakriti se traduz por Natureza, conquanto envolva muito mais
nuances que o próprio termo em si, também esse homem é um
termo abrangente no sentido de essência absoluta ou de chispa
de vida. Esse princípio equipara-se ao conceito de Átman da filosofia
Vêdánta.
O Púrusha é imperecível, inativo e inabalável. Não
é afetado pelos opostos dor e prazer, bem e mal, qualidade[3] e
defeito, etc. Está excluído das características fenomenais dos tattwas, não tem
envolvimento algum nos processos da Natureza e nem é influenciado pelos gunas.
Segundo a Kêna Upanishad (i,
5,6), o Púrusha é “aquilo que não se pode ver, mas pelo qual as visões são
vistas. Aquilo que o pensamento não pode pensar, mas graças ao qual o
pensamento pensa”.
Enquanto a Prakriti, ao emitir o Universo, se
transforma e se reveste em tattwas, o Púrusha não se altera e permanece sendo
ele mesmo, em todo tempo, lugar e além deles. Ele pode ser, ao mesmo tempo,
singular e múltiplo, homogêneo e heterogêneo. Não há maneira de conhecê-lo por
meio do intelecto. Entretanto, um dos primeiros passos da via que leva ao conhecimento do
Púrusha é o desapego ou desprendimento dos gunas. Segundo Pátañjali, “Vairágya
(desprendimento) é quando subjuga-se a compulsão pelas dispersões que venham a
ser vistas ou ouvidas. Isto proporciona a mais elevada consciência do Homem
(Púrusha), no qual cessam os gunas (atributos).” Yoga Sutra, i, 15, 16.
A existência desse princípio não
pode ser explicada através de verbalização, mas intuída através
do tattwa mahat. É a partir dele que o dualismo (máyá) desaparece, cessando os
argumentos intelectivos para demonstrar o Púrusha. Em todo caso, o que podemos
fazer são apenas algumas considerações, através do raciocínio lógico,
anteriores à convicção intuicional.
Há um momento em que, para se chegar de fato à
compreensão desses conceitos é preciso ir além da razão humana, partindo de uma
prática yôgi denominada dhyána (intuição linear, também conhecida popularmente
como meditação). A meditação é a etapam que antecede ao sámadhi, meta do Yoga.
Pátañjali define: “Dhyána (meditação) consiste em manter a continuidade da
atenção sobre aquela área específica da consciência. Samádhi (hiperconsciência)
é quando chitta assume a natureza do objeto sobre o qual se medita,
esvaziando-se da sua própria natureza.” Yoga Sútra de Pátañjali, iii, 2,3.
Aqueles que se desvincularam da Prakriti compreenderam
que como egos independentes não mais existirá vida futura, já
que retiraram seus impulsos do processo cíclico, queimando a causa e o efeito.
Isolado dos gunas e dos tattwas, o Púrusha é livre das atividades de
nascimento, vida e metamorfose que caracterizam o Universo que conhecemos.
Íshwara
Íshwara traduz-se por senhor e,
segundo Mircea Eliade (El Yoga. Inmortalidad y Liberdad, pág. 83), é o
arquétipo do yôgi. Tal princípio passou a designar também a divindade em
algumas escolas do Sankhya. Isso ocorreu a partir de um certo período da
história profundamente marcado pela fé e crenças religiosas.
Abrimos um parêntesis para dizer que o Sankhya
nunca se ocupou da afirmação ou negação da existência de Deus, já que
simplesmente isso não fazia parte de seu contexto original. Os pré-arianos
poderiam até valorizar, reverenciar e cultuar as formas da natureza
(assim como os índios o fazem), mas naquela época remota da história da
humanidade, ainda estava por existir o conceito de divindade tal qual
concebemos atualmente. Hoje podemos classificar aquele povo antigo como
naturalista, cuja concepção de vida sacraliza a natureza.
A referência mais antiga no princípio Íshwara
aparece pela primeira vez na Swêtaswatara Upanishad. Mais tarde, no
século iiia.C., Pátañjali o
definia dizendo: “Íshwara é um Púrusha especial não afetável pelas aflições,
nem pelas ações ou suas conseqüências e nem por impressões internas de desejos.
Nele está a semente da onisciência. É também o Mestre dos mais antigos Mestres,
pois não está limitado pelo tempo” (Yoga Sútra, i, 24, 25, 26).
Foi dessa maneira que, a partir de Pátañjali, o Sankhya
passou a ser denominado SêshwaraSankhya, Sankhya com Senhor, para
diferenciar do outro tipo mais antigo, designado como NiríshwaraSankhya, Sankhya
sem Senhor (que por sua vez, é o tipo de Sankhya do SwáSthya Yoga, o Yoga
mais antigo, adotado por nós).
Somente a partir da Idade Média é que houve uma
tendência em enfatizar esse novo princípio. De lá para cá começaram a surgir
algumas variantes de Sankhya, muito influenciadas pela filosofia Vêdánta que imperava
na época.
De acordo com tais correntes de Sankhya Medieval,
Íshwara é um tipo de Púrusha que se deixa, por vontade
própria, ser retido pela Prakriti, usufruindo dos processos naturais que a
caracterizam. E, embora habitando em nossa dimensão, dentro do ciclo
existencial, Íshwara está livre do karma.
Esse Púrusha especial poderá até coexistir com a
dualidade de máyá, porém suas ações não produzirão conseqüências para ele, quer
sejam boas ou más. De um lado, deixa-se levar pelo samsára; de outro, é tão
incondicionado quanto o Púrusha e, como este, não pode ser intelectualmente
compreendido.
O princípio Íshwara não teve repercussão em todas
as linhas do Sankhya. Haja vista o Sankhya Kariká que nem ao
menos o menciona. Conquanto tal elemento sempre estivesse discretamente
presente nessa filosofia, somente começou a ser propagado dentro da
efervescência espiritualista da época medieval, transformando-se, então, num
princípio tão importante quanto os vinte e quatro tattwas e o Púrusha.
Kaivalya
Kaivalya traduz-se por libertação. Para
o hinduísmo, kaivalya representa o nível alcançado por um jíva-mukta
(liberado-em-vida). Nesse plano encontra-se o indivíduo que se libertou das
leis, dos mecanismos da Natureza e dos limites do ciclo existencial, conquanto
ainda nele habite.
Pátañjali define kaivalya como “o estado em que os
gunas entram em equilíbrio e se fundem, não tendo mais utilidade para o
Púrusha; é o estabelecimento do poder de conhecimento em sua própria natureza.” Yoga
Sútra, iv, 34.
Kaivalya, em linguagem Sankhya, significa
transcender todos os tattwas da Prakriti. Ainda que habitando nas dimensões
mais sutis da Natureza, predominantemente sáttwicos, nenhum
indivíduo poderá usufruir dessa condição para sempre, já que esses planos de
existência são, simplesmente, estados de consciência.
Muitas vezes, uma pessoa se confunde com seus
próprios pensamentos, sentimentos e instintos; mas à medida que sutileza suas
percepções, é menos escrava deles. Então poderá aperceber-se apenas como
testemunha e, em princípio, não se deixando influenciar pelos processos que
caracterizam a Prakriti.
Enquanto não conseguem deslocar o centro de
observação, os homens estão presos ao samsára. Dependentes do mundo
dos tattwas, são governados pelos cinco sentidos e também por atrações,
vontades, temores, lembranças e esquecimentos. Para pôr fim a uma tal
escravidão é preciso que redescubram o que realmente são e que está implícito
em todas as manifestações da Natureza.
Dentro de cada ser, o Púrusha ilumina cada
tattwa da Prakriti. Ao mesmo tempo, ele não é cativo nem liberto. De fato, o
estar livre pressupõe um estado prévio de encarceramento, e não se pode dizer
que alguma prisão seja capaz de detê-lo ou afetá-lo.
Somente a partir do tattwa mahat, isto é, em estado
meditativo, no qual os gunas já não têm tanta interferência, é que o Púrusha se
sobressai, “libertando-se” dos processos que persistiam continuamente ao seu
redor. O polimorfismo infinito do universo acontece devido aos estados da
Prakriti que surgem na forma de: eu vejo, eu faço, eu gosto,
etc. E a confusão acontece ao supor que esse “eu” seja o Si Mesmo,
o Púrusha.
A libertação, kaivalya, consiste em romper o elo de
envolvimento entre o Púrusha e a Prakriti. Segundo Pátañjali “A libertação
(kaivalya) é alcançada quando sattwa atinge uma pureza (shuddhi) igual à de Púrusha.” Yoga
Sútra, III, 55. Tal
libertação somente é possível quando mahat, expressão mais próxima da Prakriti,
leva o ahamkára (egoidade) a uma autotranscendência, revelando, finalmente, a
essência do conhecimento em si.
Concluindo, para a filosofia Sankhya, será pela
analogia, pela observação da Natureza e, principalmente, a partir do estado de
consciência intuicional (dhyána), que poderemos compreender e, ainda, vivenciar
as mais variadas dimensões do Universo. Tal compreensão e experiência estão
acima do atual estágio da humanidade, dentro do qual linguagem alguma é capaz
de discorrer ou demonstrar satisfatoriamente.
Assim chegamos à fronteira final onde Sankhya
termina e o Yoga se inicia. O Sankhya se encerra na especulação e no
desenvolvimento de teorias que explicam a existência, mas tal conhecimento se
torna estéril quando não é fecundado pela prática do Yoga.
[3] Neste ponto, podemos discorrer sobre outro
importante diferencial entre o Sankhya e o Vêdánta. Para o Vêdánta, a Mônada,
produto final da evolução, possui três qualidades que são: sat, chitta e ánanda
(ser, consciência e felicidade, respectivamente). De outro lado, o Sankhya
considera que essa essência não poderá ter quaisquer atribuições, já que estas
corresponderão a uma projeção de nossas expectativas dentro da limitada
dimensão humana na qual nos encontramos.
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