18 de setembro de 2010

Há nela qualquer coisa de triste

Há nela qualquer coisa de triste
Qualquer coisa de dor
Qualquer coisa de amor

Há nela qualquer coisa de mau humor
Qualquer coisa de sabor
Qualquer coisa em riste!

Há, nela, qualquer coisa,
Coisa qualquer há, que nela -
Que coisa que há nela, qualquer?

Há nela qualquer coisa de triste
Há nela qualquer coisa que existe...
Existe qualquer coisa que há, nela.

20 de agosto de 2010

Navar o Irda Sacerdote de Solinari

Mais um documento de RPG que eu recuperei de um backup meu, se eu não me engano, escrevi isso em 92 com algumas edições posteriores...

Motivo pela minha saudade de jogar com ele , um Sacerdote -Mago de Dragonlance;
Navar o Irda! Divirtam-se com o conto que fiz com a origem dele antes do jogo...

Obviamente eu conhecia pouco o Drangonlance e muitas coisas  da ambientação mudaram depois, mas a essência da historia é bem bacana.  

Observações 

Irda - espécie ficcional do mundo de fantasia de Dragonlance, ambientação do RPG Dungeons& Dragons (D&D). Neste mundo fictício fantástico, chamado Krynn onde as raças e deuses são feitos de um panteão de fantasia da criação do autor, os mágicos e metamórficos Irdas são os “Primeiros Nascidos” de todas as raças, nascido dos deuses do mal, originalmente chamado de Altos Ogres (High Ogres) e também são os antecessores antigos dos Ogres contemporâneos e mais popularizados.

Sobre Dragonlance http://en.wikipedia.org/wiki/Dragonlance
Sobre a Raça Irda http://en.wikipedia.org/wiki/Irda_%28Dragonlance%29

Navar o Irda Mago Sacerdote de Solinari

Herança e Nascimento
Numa noite quente e úmida nasceu Navar. Claro, ele não nasceu com esse nome. Nem esse foi seu primeiro nome. Na verdade, ele não possuía um nome quando nasceu, mas já chegaremos nisso.

O importante é que Navar, o Irda nasceu numa noite muito especial. Um Equinócio de Primavera se aproximava, e sua aldeia estava em tempos de festa. Sua aldeia não era diferente das outras aldeias Irdas, talvez mais prosaica, pois seus cidadãos preferiam viver de um modo apenas mais arcaico. Eram tementes das Três Luas, e naquela noite, como já se sabe, era uma noite especial : a Lua Branca estava cheia e na fase de sua órbita mais próxima da órbita de Krynn, e mais ainda, as outras duas luas estavam eclipsadas, uma na outra. Esse fenômeno, raro e mágico para os mais sábios deste mundo, é conhecido como Bom Eclipse Duplo, e geralmente é um sinal de bom augúrio.

Nesta noite, Galantas, o mais nobre Paladino daqueles tempos dentre os Primeiros Nascidos, prestava piedoso uma grande homenagem a sua Lua. Ele oferecia sua devoção e eterna servidão, com seu coração cheio de alegria e dor. Pois nessa noite nascia a melhor coisa que havia feito, e um dos seus maiores pecados.

******

Na choupana rústica e quente onde morava, uma bela Irda, Maysa, era atendida por uma Grã Sacerdotisa da Lua Branca e sua aprendiz Kassandrel em um parto que a muito se estendia. Terrível os partos Irdas, pois o corpo com a dor tende a querer mudar e transformar-se (a procura de algum alívio), o que é extremamente desaconselhável para o nascimento do bebê. Portanto, além das dores normais, a Irda deve possuir grande vontade para não retardar o processo ou pior, obstruir o caminho da criança.

A chegada dessa criança, Navar no caso (como já foi dito, esse nome anda não nascerá com ele) não chegou a ser profetizada, mas era aguardada assim, pois nasceria nesse dia especial. De preferência, como alertara a sacerdotisa (seu nome era Gurla Thom e era extremamente velha), no momento em que as duas luas, neutra e , estivessem no auge do eclipse, ou seja, completamente sobrepostas, uma pela outra. Assim, ela afirmava, a criança seria forte, bela, mágica,sábia e utilizaria todo o potencial de sua origem em busca do bem pela ordem. Essas palavras tocaram Galantas, que tinha Gurla praticamente como uma mãe.

De fato, Gurla criara Galantas e o ensinara muito sobre a Lua Branca. Mas nunca o forçara a seguir seu caminho e este, mesmo sendo um fervoroso temente das Luas, seguiu o caminho da Espada. Hoje, mesmo velha e cansada, Gurla é a mais respeitada Irda dentre a Sacra Ordem das Estrelas (pelo menos entre os sacerdotes de Solinari, obviamente) e se Gurla dissesse algo mesmo que em tom de brincadeira, Galantas a levava a sério. Quando Gurla era profética, Galantas transformava suas palavras em verdades e fazia disto seu modo de vida. Foi inclusive, em uma dessas profecias, que aquele que se chamará Navar foi concebido.

É certo que muitos anos antes do Bom Eclipse Duplo, Gurla estava a testar vários ingredientes para porções que costumava fazer e trocava suas fórmulas com outros sacerdotes e magos brancos. Em um desse experimentos, utilizando um pouco mais de hidromel e mandrágora, Gurla entrou em um estado esfuziante. Dançou para as Luas durante toda uma noite, até cair de joelhos, em lágrimas e desmaiar. Dormiu assim durante dois ciclos lunares de Solinari. Quando acordou, possuía diversas visões, a maioria não se lembrava direito, outras tantas eram absurdas demais, como hordas de dragões comandados por um general negro e uma cavaleira azul, mas uma das suas visões, que parecia a mais próxima de sua realidade, lhe chamou atenção. A de que seu belo filho postiço (belo ele era, pois mantinha a aparência através da metamorfose, mas a verdade é que seu rosto verdadeiro já se encontrava retalhado de cicatrizes) cometeria um “pecado”.

Gurla foi visitada por Galantas quando este soube que essa tinha acordado. Ele estava em uma missão, mas a notícia do colapso de Gurla viajou meia Krynn. Quando chegou a sua cabana, Gurla, ainda sedada sobre os efeitos da mistura, disse em sua voz mais negra:

“Ah, meu filho pródigo. São tão belos são teus feitos e tão justo e nobre é seu coração. Mas mesmo o mais nobre dos campeões foge do caminho de sua honra. Saiba pois que, sendo vivente e errante, hás de infligir uma chaga em sua linha dourada de glória e respeito. Na hora que sua palavra de desposar uma Primeira Nascida, seus olhos se recairão sobre outra, de mesmo sangue mas de fama maculada e entregarás seu coração a ela. Será um crime, um pecado que estará plantando em vosso mais estimado amor. E esse pecado atrairá um grande mal a esta aldeia”

Quando Gurla terminou de falar, sorriu e olhou para Galantas como se não estivesse o vendo há anos e, mesmo como se acabara de por os olhos sobre ele, e caiu profundamente em torpor, dormindo mais um ciclo lunar.

Nem é preciso dizer que Galantas ficou extremamente chocado com tais palavras. Mesmo com todo o poder concedido pelo Deus Lunar não conseguia entender como poderia ele trair sua palavra e se apaixonar por alguém em detrimento de sua honra e trazer qualquer mal a sua aldeia. Sua meditação e orações estavam nubladas por essa profecia e, quando Gurla acordou, foi ter novamente com ela. A velha tinha uma terrível dor de cabeça e teimosa como qualquer pessoa de idade, preparava uma nova poção. Galantas perguntava preocupado sobre a profecia de Gurla. Estava mortalmente apreensivo e exigia que ela lhe falasse mais.

Gurla, arredia e chateada como qualquer pessoa com alguma dor que atrapalha os pensamentos, tornando qualquer falante um inoportuno – chamou Galantas de pedante e ordenou que ele esquecesse tal besteira, pois se ela não se concentrasse em assuntos caseiros, não entenderia as grandes revelações a e acabaria esquecendo tudo. Galantas, teimosos como qualquer Paladino que tem sua honra questionada, continuava a pressioná-la até que a velha estourou de fúria e ordenou com os olhos em chamas que ele se retirasse.

Galantas partiu, deixando o coração de Gurla mais tarde mortalmente ferido. Era um menino para ela, mas não era certo trata-lo como tal, ainda mais sabendo de sua influência sobre a cabeça dura e perseverante do herói.

****

De fato, Galantas partira determinado a não se entregar facilmente a qualquer força maligna ou mal que pudesse corrompê-lo. Dobrou o seu numero de missões, passou a corrigir erros e injustiças com muito mais vigor e se tornou, durante um tempo, o herói Irda mais celebrado pelo seu povo. A verdade sobre seus feitos nunca saberemos, pois como qualquer povo, a tendência em aumentar as histórias de seus campeões transformado em lendas é um fato notório. Trovadores estabeleciam campeonatos com Galantas como tema e novas aventuras eram criadas aos quais ele nem ousara participara. Outras sofriam tantas alterações que se Galantas a escutassem, diria se tratar de mentiras. Matar dragões, gigantes, hordas de minotauros e draconianos eram fatos comuns nestas trovas, alguns diziam que Galantas se tornara durante um tempo um corsário justiceiro e, alguns poucos, que ele evitara um novo cataclísma (em algumas narrações ele estava acompanhado de outros heróis, mas a mais comum e inverossímil é que estava sozinho com um avatar escolhido pelo próprio Deus da Lua Branca).

O fato é que Galantas aventurava-se o tempo todo, buscando somente a honra das batalhas como escudo contra a Maldição de Gurla. Numa dessas, as lendas não contam, estava ele uma estrada descansando de uma longa luta com um Cavaleiro Negro, se preparava para subir no alto de uma montanha atrás de uma criatura que assolava um grande reino Irda, quando foi cercado por ladrões e ferido por uma faca envenenada. Galantas lutou mal, surpreendido, fatigado, ferido de sua ultima luta, e agora envenenado. Mesmo assim, derrotou os criminosos, sem sequer utilizar-se de sua espada. Na verdade, derrubou o ladrão que o esfaqueara com uma cabeçada, derrubando em seguida o segundo ao pular desajeitadamente por cima dele e, depois teve que correr atrás do terceiro, que fugia com seu nobre escudo de prata. Atirou então uma pequena mas pesada pedra da margem de um riacho próximo na cabeça do fugitivo. Se aproximando do ladrão para recuperar seu escudo, agora sem os efeitos da adrenalina, sentiu o veneno em seu corpo. Ficou pesado, confuso e com espasmos irregulares. Uma forte febre lhe invadira a face e sua visão se tornou turva. “Chegar ao acampamento” conseguiu pensar em voz alta, se ouvindo para que ele mesmo entendesse “antídoto na algibeira”. 

A visão tornou-se escura, seu copo bambeara e a saliva se acumulava em sua boca entreaberta. Já estava caído no chão quando se deu conta que suas pernas falharam de vez. Pois foi nesse momento que viu, antes de seus olhos se fecharem completamente, uma figura feminina, nua e brilhante sobre a luz dos três luares surgir das águas do riacho.

Quando acordou, percebeu que estava próximo a uma fogueira, pois sentia uma luz ofuscar seus olhos. Mas o calor que sentira era mais próximo do que o da fonte de luz. Sentia que estava deitado sobre as pernas entrelaçadas de uma pessoa. O cheiro doce que invadia suas narinas lhe sugeriam que se tratava de uma mulher. Movendo sua cabeça levemente, pôde ver um lindo rosto com traços finos, porém marcantes. Seu sorriso maroto mostrava que se travava de uma moça de grande espírito presente. “Melhor, meu pombinho?”. Aquela voz reverbera por seu ser, lhe ativando a capacidade de se expressar.

“S-s-sim.” Responde o Grande Paladino Galantas, ainda meio tonto e até um pouco sem graça. Ora, mesmo um herói de grande saúde, envenenado duas vezes, uma por uma faca e outra por uma beleza noturna, tem problemas em recuperar-se totalmente. Abriu sua boca, mas agora nenhum som saia. Era uma criança novamente.

“Acho então que eu acertei qual era o antídoto de sua bolsa. Você me parece muito melhor. Devo partir. Minhas roupas ficaram muito distantes daqui.”

A tontura de Galantas agora o fez não entender totalmente o que a moça dizia. Apenas o final de sua fala ficou claro, pois foi quando percebeu que ambos estavam envoltos em sua manta de dormir, aquecidos, mas que tocava a pele nua de sua salvadora. De fato, ela levantara totalmente despida e ele a reconheceu sem pensar: “Você veio das águas para me salvar ?”

“Não seu bobo.” Disse com certa força, mesmo sentindo que ele não a entendia direito “Eu estava nadando o mais afastada de casa possível, quando lhe achei. Se me pegassem em casa assim, eu seria certamente degolada. Ou deportada para outra dimensão, talvez....” Ela sorria e era apenas isso que Galantas via. Beleza nua e sorridente:

 “Você estava perseguindo um rapaz, atirou-lhe uma pedra que zuniu no ar a uma distância de uns 5 metros. Impressionante. Ele caiu, você se aproximou, pegou um escudo, caminhou nessa direção mas ficou tonto e desmaiou.” 

“Você me salvou” Galantas repetiu seus olhos adoravam aquela visão a sua frente.

“Esta bem, esta bem” disse a moça. “Mas não conte a ninguém que me viu aqui e assim. Meu pai ficaria furioso” Disse, charmosa e começando a se afastar.

“Me salvou” disse antes de desmaiar de novo. Uma quantidade grande de emoções numa mesma noite, mesmo para um grande campeão. No dia seguinte acordou e se não fosse pelos ladrões ainda desacordados a sua volta, acharia que tinha sonhado.

Após aprisionar os ladrões numa arvore (costume antigo, hoje eles seriam levados a tribunais, pois qualquer faca pode romper a mais resistente das cordas), Galantas partiu para o tal reino assolado pela tal criatura.

*****

Não basta dizer que Galantas derrotou a tal criatura; não se sabe bem o que era, pois as histórias são muito controversas nesse ponto. Mas trouxe a cabeça (ou as cabeças) do monstro e a(s) exibiu aos cidadãos daquele reino. Também não basta dizer que todos festejaram muito o seu novo campeão e Galantas, cansado de tantas aventuras, resolvera repousar naquela cidade até se recuperar totalmente.

O que, na verdade, basta dizer é que, impressionado com suas façanhas, o Duque do local, Argonar, mandou que Galantas fosse trazido a sua presença e que o Paladino mesmo, avesso a qualquer recompensa ou grande homenagem, acabou aceitando . De fato, Galantas estava tão cansado de seus combates que pensara que um pouco de idolatria e recompensa seriam úteis para que ficasse mais descansado e claro, poderia levar qualquer ganho para sua aldeia ou para o grande templo de pedras de Gurla, ou até para algum necessitado no caminho... Ou quem sabe ainda, no caso de um item mágico, muito comum em recompensas de Duques Irdas, ele até poderia utilizá-lo em suas novas aventuras para trazer o bem.

Galantas utilizava apenas um escudo e um anel encantados por Gurla, além de suas próprias bênçãos requeridas ao Deus da Lua Branca antes da batalha e por mais que se tornasse muito experiente, sua fama deixava seus desafios cada vez mais difíceis. Além disso, seu bondoso deus era da um dos deuses da magia, portanto não havia nada de errado de aceitar itens de seu portfólio para suas empreitadas.

Na presença do nobre Duque, foram horas e horas de homenagens e presentes. Galantas aceitou a cada um deles calado, já que, apesar de belos, no fundo eram inúteis em suas aventuras. Simplesmente eram bens materiais valiosos, dourados e brilhantes, mas sem serventia alguma para um campeão. Entretanto, entre um e outro tesouro, o Duque ofereceu ele mesmo (até então, segundo Argonar, os outros eram presentes de nobres variados da corte, barões, lordes e outros títulos pomposos) dois de seus maiores pertences: Uma espada sagrada de Solinari e sua filha mais nova.

A mera visão de tais belezas ofuscou os olhos de Galantas: Entrando no grande salão do castelo uma jovem muito nova, ornada de rosa e azul, com varias joias com pedras preciosas, segurando em seus braços uma espada nua, de aço brilhante e punho negro com uma gema alva encrustada. Galantas a achou a Irda muito bonita, (apesar de não saber que ainda estava enfeitiçado pela sua salvadora) mas ficou secretamente fascinado pela espada. Quando percebeu, o Duque estava lhe oferecendo os dois itens como um só. A mão de sua caçula Lyrla e a espada da Lua Branca, aos quais Galantas se casariam e se tornaria o campeão da bondade e da bem-aventurança de todo seu grande Ducado.

Galantas não era tolo e sabia que o Duque estava comprando um campeão para suas terras, alguém que protegesse a todo custo seu reino. Porém ao se concentrar em suas habilidades inatas de Paladino, o santo guerreiro não sentiu qualquer maldade no coração do Duque e sentindo um leve cansaço de todas as sua viagens, acabou concordando.

“Porém, meu nobre Duque,” acrescentou Galantas “Devo sempre retornar para a pequena e rústica aldeia de onde nasci e antes de tudo jurei sempre proteger.” O Duque parecia bem informado sobre a ligação de Galantas com seu povo natal e sua igreja, ao que prontamente respondeu:

"Construirei um portal mágico para sua aldeia. E, sempre que sentir o chamado da aventura, lhe concederei uma audiência onde ouvirei sua vontade e ponderarei sua partida. Mas saiba que se aceitar, será meu filho e um nobre herdeiro deste vasto reino” 
 
Quase sem pensar, apenas fitando com seus olhos cansados o brilho da espada, Galantas aceitou. Algo em seu intimo gritava e a voz de Gurla sussurrava em seus ouvidos. Mas Galantas, exausto de vagar cavalgando em sua pesada montaria, sentia que era hora de combater em nome de um povo em embaixo de uma bandeira e uma causa nobre e poderosa. E portanto o grito e o sussurro se calaram.

***

Na noite de seu noivado, em uma festa ainda maior que o Duque organizara as pressas, Galantas parecia amortecido pelo dever que havia se comprometido. Estava destinado a cumpri-lo e mesmo que associasse sua condição com a tal profecia de Gurla, nunca voltaria atrás em sua palavra. Foi nessa mesma noite, incongruência das coincidências, que avistou entre os nobres mais próximos do Duque, a sua salvadora.

Ela estava vestida dessa vez, mas reconheceria seu rosto de traços finos e marcantes e seu sorriso maroto em qualquer lugar, principalmente quando esta o olhou bem e fez um singelo porém travesso gesto pendido silêncio ao Paladino. Se não durante seu salvamento, Galantas se apaixonou completamente nessa noite. Sem entender muito bem como, ( seria obra das outra Luas ou talvez um novo teste da sua própria?) um turbilhão de informações chegara a seus ouvidos. Maysa, o nome da linda Irda, a filha mais velha do nobre Argonar: Indisciplinada desde criança. já havia desonrado sua casa por se recusar a se portar propriamente como uma lady, havia sido prometida a um nobre que morrera  há muito tempo, primeira vítima do tal monstro que o próprio Galantas derrotara e, desde então estava solteira, prometida agora a um velho general. Este guerreiro ancião estava a uma longa distancia e se recusava a viajar para o ducado, esperando o momento certo (a morte do Monstro, provavelmente) para vir reclamar a mão de sua pretendente.

Galantas não podia tirar seus olhos dela. Estava realmente enfeitiçado. Mesmo na presença de sua noiva, aquela pequena e singela Irda, de beleza frágil e juvenil, era como se tivesse um sexto sentido que seguia os passos de Maysa. Tudo nela o encantava, sua meninice, sua indisposição aos modos da corte e seu modo franco de se expressar. Se em qualquer lugar de sua mente Galantas sabia que esta era a provação que sua velha mentora havia falado, era nublado pelo desejo forte, avassalador e sincero de estar com sua amada.  Mesmo no momento mais formal, em que o Duque consolidava o noivado, dando formalmente ao Paladino a espada sagrada e anunciando que um mensageiro já havia partido a velha aldeia para trazer uma porção de terra para o ritual de abertura do Portal Mágico, por onde Gurla seria convocada para pessoalmente celebrar o casamento... Mesmo nesse momento, o Paladino fervia de luxúria pela sua futura cunhada.

Terminada a festa, Galantas acompanhou sua noiva até a porta de seu quarto em frente aos convidados, onde beijou sua testa e se despediu. Percebera que entre o secto que o acompanhava, Maysa não estava lá. Após as ultimas formalidades, rumou como um louco em seu cavalo para a beira do riacho daquela noite, como se soubesse com toda certeza que sua amada estaria de novo a se banhando furtivamente.

Quando chegou, cego de paixão e dor, Maysa, que se banhava nua, apenas sorriu. Pediu para que lhe entregasse as roupas que estavam na margem e se vestiu na frente de Galantas sem nenhum pudor. Conversaram animadamente a noite toda, trocaram sonhos e esperanças, lamentaram seus destinos, e ela revelou que seu pai enviara, ao mesmo tempo, que um mensageiro a aldeia do Paladino, um segundo para o distante reino do velho general e logo estaria casada e infeliz. Mesmo em face desses tristes eventos, mantinham o humor, a esperança, os animados afagos e os carinhos. Galantas tentava inutilmente se controlar, mas sua vontade de tocar Maysa era maior. Ela não relutava, mas o olhava com curiosidade e marotisse. Sorria sempre observando quando ele a tocava e apreciava sutilmente o conflito do seu amado.

Galantas ajudou Maysa a voltar para seu quarto, uma vez que acabaram ficando a noite toda a conversar, os raios do sol de Krynn já não ajudavam a despistar os guardas. Galantas beijou apaixonadamente Maysa, jurando-lhe amar para sempre a bela moça que novamente apenas sorriu. “Eu sei” disse entre um beijo e outro “eu sei”.

Galantas sonhava acordado com Maysa, mesmo nas caçadas com os nobres e nos torneios pela honra de sua noiva promovidos pelo Duque. Lyrla era tímida e frágil e todos a sua volta ficavam hipnotizados por sua beleza, menos seu próprio noivo. Alguns poucos já comentavam entre a plebe o modo como o Campeão trocava olhares com a futura cunhada, mas nada parecia chegar a corte. Por isso mesmo, chegada a aprendiz Kassandrel com os itens de Gurla para ser associado ao feitiço do Portal, o Duque confiou a ela e Galantas a tarefa de escoltar Maysa ao Forte do velho general.

 “Só posso confiar a segurança de minhas filhas a você, meu novo filho. E você,  Sacerdotiza Kassandrel, poderá realizar o casamento o mais rápido possível de Maysa, alem de trazer de volta aqui os mesmos tipos de itens que, todos meus conselheiros dizem, conhece tão bem quanto sua mestra para acha-los no territorio de meu aliado e assim, poderei realizar um portal duplo e manter três reinos em ordem. Meu Ducado, a Aldeia e Forte terão em fim a paz que merecem”. 

Logo que saíram da cidade, Galantas ordenou a Kassandrel que o cassasse com Maysa sobre a luz da Lua Branca. A Sacerdotisa, mesmo recém iniciada, tinha tal poder. Não podendo recusar um pedido do grande Campeão de Solinari e percebendo que o amor incondicional do Paladino pela moça era puro, assim o fez. Galantas e Maysa foram casados e ficaram muito felizes. Assim o guerreiro santo cedeu a sacerdotisa seu anel de proteção como recompensa. E no acampamento, sobre o fim da luz da Lua Branca, aquele que se chamará Navar fora então concebido.

Galantas então fugira com Maysa e Kassandrel de volta a aldeia, onde foram recolhidos pela velha Gurla. Triste por Galantas ter seguido sua visão como uma marionete e da bondade extrema de sua aprendiz, a velha maga-clériga se limitou a olhar com muita severidade para ambos os pupilos, que apenas abaixaram a cabeça envergonhados.
 
O refugio  seguia tranquilo durante algum tempo, mas as noticias do ocorrido era soprada por todos os cantos e logo a fuga chegara ao ducado despertando a ira de Argonar. Seus clamores por vingança reverberaram de volta até a aldeia. Os boatos eram distorcidos e acusavam Gurla de ter o tempo todo sabotado o casamento de Lyrla e ter ela mesmo celebrado o casamento dos fugitivos. Maysa então descobrira estar grávida e a velha sacerdotisa da magia prateada calculou o nascimento para a noite do eclipse duplo. Boatos a cerca da ira do pretendente de Maysa também eram ouvidos durante o tempo da gestação e Galantas sabia que isso não ficaria em pune. Porém o bondoso e justo campeão, é bem verdade que estava cego ao mundo, só via seu amor e seu filho a crescer e se formar no interior do ventre de Maysa. Enquanto isso Gurla evitava ataque mágicos de Argonar à aldeia com alguma facilidade, mas temia que aquilo era apenas um despiste de algo bem maior que ainda estava por vir.

*****

E de volta a noite do grande eclipse, tirando as dificuldades do parto, a dor e a concentração em torno do nascimento, tudo parecia em paz. A grande preocupação de Gurla era que a mãe fizesse a contração final no momento do elipse total, quando, de repente, luzes e fogo surgiram de dois rasgos na realidade, um ao norte e outro ao sul da Aldeia.

Eram dois imensos, faiscante e prateado portais místicos  que davam passagem para que surgissem diversos guerreiros muito bem armados e montados em cavalos negros e brancos, que logo começaram a cercar a aldeia.

Assim como Galantas, Gurla sentira a abertura do portal místico e ambos agora contemplavam em desespero a quantidade de inimigos que surgiam sitiando de forma militar e muito bem ordenada toda a região.

“A ultima contração!” Kassandrel gritou para Gurla. A velha olhava aterrorizada pela janela redonda de sua choupana e assim não a ouviu. Sem insistir, a aprendiz prosseguiu sozinha, pois não gostava da ideia de manipular assim o destino da criança, acreditando sempre na bondade acima de tudo. Com sua concentração em seu dever inabalada continuou a ajudar Maysa, sem lhe forçar a contrair-se.

Enquanto os dois enormes exércitos cercavam habilmente a aldeia, ao qual seu povo completamente em pânico se refugia em suas casas, Galantas subia em seu cavalo e rumou para dentro da cabana de Gurla. Esta então se lembrou repentinamente do parto e foi ajudar Maysa. Kassandrel, deixando o trabalho para as mãos mais experientes de sua mentora, olhava agora para a janela e podia ver um leve filamento da Lua Neutra a surgir, ao mesmo tempo que o bebê nascia definitivamente. “Será como a mim mesma” pensou a aprendiz. Mas logo voltou seus olhos para o cerco dos exércitos, quando se assustou com Galantas que entrara com montaria e tudo dentro da cabana. “Eles querem a nós três.” Disse o Paladino olhando para Maysa, estirada na cama, para a velha. Esta ainda segurando a criança ensangüentada, entregou-a para Kassandrel e ordenou em alta voz. “Fuja! Leve essa criança daqui.”

Kassandrel, assustada com o pequeno bebê sujo de sangue em seus braços, olhou para Maysa que, mesmo exausta, começara a gritar “Não! Meu filho!”. A Aprendiz olhando então para Galantas, percebeu rapidamente que essa era a melhor coisa a ser feita e ouviu novamente sua mentora a gritar com verdadeira vontade e um leve tom mágico “VÁ!”

E assim a nova sacerdotisa partiu as pressas, sem nunca olhar para trás. Apenas ouvia a distância o som de um combate de fortes proporções entre os exércitos de dois reinos contra duas lendas vivas do povo Irda.

*****

Travessia
 
Kassandrel tomara decisões com pressa e pavor, sobre a influencia de seus mentores e só parou para pensar no exagero de seus atos quando estava num navio rumo ao Continente, longe do reino Irda. Se passando por humana, por conta da sua habilidade inata que compartilha com todos os Primeiros Nascidos de se metamorfosear em qualquer forma humanoide , a sacerdotisa decidira levar o pequeno Navar - que ainda não tinha nome algum, como já fora dito mas logo será dito seu primeiro nome - até a Torre de Marfim. “Lá, saberão o que fazer com essa criança mágica” pensava a assustada aprendiz de sacerdotisa do Deus da Lua Branca. Só percebera que estaria cortando contato com usa mentora quando já estava bem longe da barreira mística do reino Irda.

No barco, uma pequena viajante da raça Kender notara a criança e após ajudar Kassandrel a cuidar dela e dar banho, batizou o pequeno de Ylyssyu (Pequeno e sujo na língua Kenderiana), prometendo segredo sobre o luar alvo de Solinari.

Na viagem, bastante longa, Kassandrel queria se certificar que não seria seguida e, portanto optou por atravessar o continente por terra de um ponto mais ao norte. Lá pegaria caminhos para oeste até chegar em alguma estrada mais afastado e descer ao sul para chegar a torre mística. Assim executou e durante todo o trajeto começou a se afeiçoar por Ylyssyu. Passou seus primeiros meses com ele, notando suas características potenciais mais fortes, protegendo e abençoando-o todas as noites. A aprendiz passou por alguns desafios no grande continente de Ansalon do mundo de Krynn: fugiu de hordas de draconianos, superou um mago rubro em um tolo debate sobre magia e até esteve na caverna de um falecido dragão com Ylyssyu em seus braços, berrando como uma criança molhada e com fome, mas essas aventuras serão contadas em outra ocasião. O é fato que só conseguira chegar a Torre quando o bebê completara três anos.

Chegando à alta torre dos magos, Kassandrel pediu asilo a um jovem amigo dos seus tempos de iniciação mágica, o elfo Farmodran. Amantes em outros tempos passaram a criar juntos Ylyssyu como seus pais postiços. Mas esta união estava comprometida, pois Farmodran tinha compromisso com sua ordem de procurar aprendizes em potencial enquanto a clériga da magia prateada procurava como louca noticias sobre sua mentora.

Quando completaram três anos após a chegada de Kassandrel e Ylyssyu e, portanto, este estava com seis anos formados, a sacerdotisa, agora bem mais poderosa e experiente, recebera noticias que o Duque Aragonar e seu aliado, agora casado com Lyrla, mantinham Galantas, Maysa e Gurla aprisionados em uma cela mística atemporal, combinado os poderes mágicos de ambos os nobres contra a força da velha feiticeira pega de surpresa.

Formando um pacto com o elfo, imbuiu Farmodran de cuidar de Ylyssyu e partiu para resgatar seus aliados de longa data. Deixou seu anel de proteção para que o Mago Élfico entregasse como  herança a criança quando esta estivesse maior (e começasse suas próprias aventuras) e partiu de volta ao mundo dos Irda. Sua nova travessia, sua missão e seu resgate foi bem sucedido. Essa história também será revelado noutra ocasião. Por enquanto, ficaremos com o pequeno Navar (que ainda era chamado de “pequeno e sujo” em Kender) e seu mentor elfo.

*****

Treinamento
Farmodran era um mago extremamente poderoso. Crescera muito na magia, já que não tinha se dedicado ao sacerdócio como Kassandrel. Mas como pai e professor era relapso, descuidado e, algumas vezes, omisso. Não que fosse de natureza má, pelo contrário, mas era apenas centrado demais nas suas revelações místicas e na procura de futuros aprendizes do que se dedicar à paternidade. E ter um aprendiz que não foi ele que achara e que não poderia repassa-lo para algum feiticeiro mais velho satisfeito em treinar em troca de favores era por demais frustrante.

Claro, por outro lado, o bondoso elfo já amava Ylyssyu. Contava-lhe histórias de seu povo, ensinara-o a ler e escrever várias línguas, a identificar feitiços e a se comportar como um bom elfo, como artifício para esconder sua identidade Irda, ainda mal vista de um modo geral em Krynn. Ao longo de seu crescimento, quando já estava a frequentar mais os jardins da Torre, Ylyssyu assumira a forma de um elfo e era considerado um sobrinho distante de Farmodran pelos demais. Desde pequeno havia sido ensinando nas artes da mudança de forma por Kassandrel e que deveria se esconder, pois era duas vezes procurado, por sua raça e sua origem.

Um dia, brincando em volta da Torre entre outros elfos de várias regiões, se machucou entre um rosário e, por breves estantes, assumira a sua forma original, pois ainda precisava se concentrar para manter seu disfarce, sendo surpreendido por Mirtraton, um jovem elfo que Farmodran havia trazido para se tornar mago. Revertendo sua forma para a de elfo com o susto, viu Mirtraton sair correndo, engajado a encontrar seu professor e mestre humano para contar o que presenciara. Mas Farmodran foi o primeiro que o jovem aprendiz de feitiçeiro encontrou. O padrasto do Irda disse ao elfo que ele estava delirando e que não deveria contar a ninguém sobre isso. Mirtraton então, muito contrariado, partiu para seu quarto, resmungando.

Após algum sermão, Farmodran dá Ylyssyu o anel mágico e revela que ser de seu verdadeiro pai, passado para Kassandrel na noite que ele fora concebido. E todas as aventuras e desventuras que o legado de Galantas, Gurla e Maysa caiam sobre seus ombros.


Bacana, né? Um dia, quem sabe, eu termino isso

20 de julho de 2010

Ferramentas do ator dramático no realismo



Ferramentas do ator dramático no realismo

1 - Capacidade de perceber o corpo como organismo vivo e presente nas relações humanas.
 
2 - Capacidade de compreender e aplicar os mecanismos de qualificação de relação: 

· Relação - A relação desenvolvida entre os atores a partir de estimulo sensorial.*
·  Objetivo - O que se quer do outro, da situação, do lugar, de si e etc.
· Diálogo interno - O diálogo com a percepção.**
· Circunstância - Os fatos, eventos, acontecimentos sucessivos (A+B+C)***
· Grau de relação - A maneira como se relacionam afetivamente e socialmente os atores das circunstâncias.
·  Antecedente do grau de relação - A história que qualifique o nível de intimidade vivenciada no grau de relação.
·  Transição - A mudança de objetivo ou de estado de relação.


3- Capacidade de perceber o espaço e promover deslocamentos que auxiliem na qualificação da relação.

· Deslocamento – As trajetórias corporais estabelecidas na cena.
· Pontos de apoio - Os objetos cênicos que criam possibilidades de deslocamentos no espaço.
·  Delimitação do espaço (4ª parede) - A não existência de platéia. Um mundo entre quatro paredes. ****
Notas:

*Está tudo no outro. Estar disponível é tudo.

** Sempre com a cena, sempre com o encontro com o outro

*** Sempre precisa haver conflito – a cena é a realidade condensada.

****Para tudo isso o corpo precisa estar sensibilizado, aquecido e pronto para poder estar mais presente, desarmado e disponível!
 
Comentários:
Parece fácil. Não é. Mas é simples. E o simples não é difícil mas é extremamente trabalhoso

Ao trabalho!

DB

8 de julho de 2010

três miserias

Irrelevante se vai ser provado que se é culpado ou inocente, isso , até onde se sabe é trabalho de outro poder que não o quarto, mas este, a imprensa em geral, quer vender noticia com suas manchetes sensacionalistas, como no caso da menina que disse que foi atacada por neo-nazistas e a mídia brasileira comprou o babado e não fez um mea culpa até hoje.

É vergonhoso ver o mesmo erro se repetindo, os meios de comunicação, bancados por corporações com interesses financeiros mefistólicas corrompem os editores e jornalistas faustinos e por sequencia as pessoas que consomem noticia, emulando até no seu espaço pessoal opiniões impensadas, reações sem medir sua sinistra consequencia.

O mais engraçado é, se você comenta isso, de que a manchete acusa, julga, mas o texto da noticia ratifica, todo mundo acha normal "Ah, a imprensa exagera pra vender...."

E vai assim, seguindo esse Panis et Circensis que nem pão e circo é, porque pão ainda alimenta e machete sensacionalista corrompe, circo hoje é lúdico e o espetáculo de vozes querendo sangue (mal sabendo que usam o indiciado como bode expiatório para, na catarse, expiar suas mazelas).

No final, tudo é sacrifico, antes, porém, as sociedades eram mais evoluídas, sacrificavam um cidadão conscientemente, para aplacar seus temores  em relação as suas miserias existenciais: O outro, os outros seres que não de sua especie e o clima. Agora é o sacrifício manipulado que balançamos em nossas arvores como macacos gritando "culpado! culpado! culpado! fogueira! corte-lhe a cabeça! Morte! Sangue!!!!"

ROSEBUD e o BIG BROTHER ganharam.


Eu, fico com as palavras de um homem de teatro,  olhando para elas e vendo a peça se repetir, se repetir....

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertolt Brecht, (10.02.1898 - 04.08.1956). Teatrólogo e poeta alemão. 

Não vou corrigir o texto, cansei de tentar o acerto, estou afim de errar. Espero estar errado e o cara ser tudo isso que estão ganhando dinheiro pintando dele. Mas se não for, vai ser uma ironia que se perderá mais uma vez na "história". Afinal, alguém já leu "fulano é indenizado por jornal tal, tal e tal por calunia e difamação"

Não né? O lugar que devia ser o mais revolucionário, aquele do trovador, do mensageiro divino, foi comprado. Triste. "Tá dominado, ta TUDO dominado!"
Por favor, não estou defendendo o sujeito, nesse ou em qualquer outro caso....
Só quero tentar apontar pro direito do cidadão de ser inocente até que se prove LEGALMENTE o contrário desce pelo ralo junto com seu sangue, pelo simples prazer de se vender uma manchete.

14 de junho de 2010

Convite


Convido-o, meu caro leitor, amigo antigo ou internauta inusitado a ingressar num original e admirável mundo novo.

Convido-o ao vislumbre original de versão de fatos.

A um novo ponto de vista sobre a realidade.

As várias realidades.

Convido-o a descoberta que não existe verdade. Nunca existiu. Nem no mundo platônico, pois ao se pensar que exista uma verdade ideal, ela deixa de ser a verdade.

Convido-o para minha arte, convido-o a olhar-se na minha arte- espelho e a se auto-avaliar durante esse mirar-se. Ou, ao olhar, só deixar sentir e sentir-se.

Convido a nessa experiência que você afirme-se como individualidade, em lugar de reduzir-se a meros personagem de qualquer um discurso generalizante que você consuma, tendo esse discurso sido sua opção ou imposta à você.

Convido ao teatro que é tão ficção quanto qualquer versão de qualquer fato.

Convido-o a experiência teatral, o evento social que é o teatro, a possibilidades de escolhas de outros pontos de vistas, de se perceber o mundo por outro panorama.

Convido-o, no Teatro, a poder disponibilizar um senso crítico individual, diferente de se manter o senso comum, onde é tudo pré-estabelecido. A mexer com as expectativas,

O trabalho do ator, tanto o atuante quanto o expectante (pois o objeto que atua pode estabelecer o convite de uma relação simbiótica e sinestésica com o observador para ambos serem os dois, observador e objeto observado) – este trabalho nada mais é que a condição humana condensada, portanto, ao aceitar meu convite e quando entramos em cena, estamos fazendo história.

Aceita o convite? Vamos fazer história?

6 de junho de 2010


Passarinho canta a paisagem
Trabalhador faz a verdade de artesanato
Poeta declara o sonho sonhando
E deus dança a vida em roda de festa.

Sol se esconde entre a água branca que flutua
Passarinho tenta chamá-lo pra fora, pia que dá gosto
Vento empurra com sopro bom, sopro com cor de anil
Dobrando a esquina do lado do mar, como já disse o pai poeta:

"Há tanta vida pra viver, 
Há tanto sonho pra sonhar
Dobrando a esquina do lado do mar".

Lua de dia é fotografia

Redonda mas meio roída
Parece que o rato branco passou por lá

Noite adentro se abraça e se beija
Adolescente de fogo e molho de vida
Distancia dói só de imaginar
Mãos procuram o corpo acalmar

Quero você, agora
Quieta na tarde fria, o céu nos poros e no beijo

Quero você, pra já
Correndo na madrugada, rindo nos pés de meia, mordida na perna

Crime não é inspiração
Nem plágio hereditário
Crime é ficar tão só, sem acalanto
Dia e noite o rumo desnorteado.

 


 

Como era a gíria no teatro de 50 anos atrás


Em 1959 o dramaturgo Paulo de Magalhães escreveu um pequeno compêndio "Como se ensaia uma peça". No final do livro vem um interessante glossário de gíria Teatral. Alguns termos continuam até hoje como Canastrão, Galharufas, mas alguns tem explicações peculiares e outros me são inteiramente novos. Separei uns casos:

Formigão – Ator novato. (Nota: Qual seria o termo hoje em dia? Calouro?)

Caco – Colaboração improvisada do Artista ao texto da peça. (Nota: Gostei da erudição. Na próxima vez que colocar o caco vou lembrar essa!)

Corneta – Piada improvisada que não dá resultado cômico.

Dar-Um-baixo – Fracassar em cena.

Carroção – Ficar calado, por esquecimento do texto, provocando longa pausa cênica. (Nota: hoje seria dar-branco. )

Faltar-Em-Cheio – Não entrar em Cena no momento devido, deixando atônitos os Artistas contracenantes (Nota: hoje seria Perder a deixa de entrada?)

Encher-a-cena – Compôr, improvisando, frases longas que dêem tempo ao Artista, que "está faltando à Cena", de entrar no Palco. (Nota: Hoje seria Salvar o colega? Encher linguiça?)

Crác – "Sentir o crác" quer dizer enervar-se tremendamente, perturbando-se em Cena (Nota: O "crác" de hoje em dia ainda é uma droga mas é bem pior!)

Porão – "Foi para o Porão", expressão que significa fracasso da peça. (Nota: Foi pro saco? Babou?)

Morrer-Vestido: Fracasso pessoal do Artista na interpretação do "papel"

Abafar - Fazer sucesso (Nota: E eu achava que isso era uma gíria recente)

Maioral – o melhor Artista

Piorál – O pior Artista (Nota: Hahaha)

Engrolar – Articular mal as "falas" de "papel" (Nota: Falas de Papel é ótimo)

Muleta – Atriz ou ator importante que, cansado, impõe para o marido ou espôsa, bons contratos e bons "papéis" (Nota: Ainda existem muletas, mas do jeito que a coisa tá o cansado e sem inspiração que se apóia nela também trabalha pra dobrar a renda)

Espinha - "Meter espinha" diz-se do Contra-Regra que aumenta o preço das compras de pertences da cena em proveito próprio (Nota: Acne comum ainda e principalmente na produção).

Fofoca –Encrenca , fuxico , intrigo (Nota: Quem diria que esse termo veio do teatro).

26 de maio de 2010

Tempo sem poesia


Cria e recria

Morre um pouco

Bebe um pouco

Tenta se equilibrar


 

Não consegue, tenta de novo

Essa angustia tem que passar


 

Foge, corre, se toca, se esquece

Retorna pro conhecido

Tem dias que é só chuva

Tem dias que nem saindo


 

A violência passa

Mas marca, marca


 

Tenho um que rio corre

E um eclipse que se desfaz


 

Contentamento, conte-tanto

Ment – o

O

I!

18 de maio de 2010

Arquétipos das estruturas míticas nas histórias e roteiros


Assim que entramos no mundo da mitologia e das histórias fantásticas, observamos que há tipos recorrentes de personagens e relações: heróis que partem em busca de alguma coisa, arautos que os chamam à aventura, homens e mulheres velhos e sábios que lhes dão certos dons mágicos, guardiões de entrada que parecem bloquear seu caminho, companheiros de viagem que se transformam, mudam de forma e os confundem, vilões sombras que tentam destruí-los, brincalhões que perturbam o status quo e trazem um alívio cômico. Ao descrever esses tipos comuns de personagem, símbolos e relações, o psicólogo suíço Carl G. Jung empregou o termo arquétipos para designar antigos padrões de personalidade que são uma herança compartilhada por toda a raça humana.


Jung sugeriu qu
e poderia existir um inconsciente coletivo, muito semelhante ao inconsciente pessoal. Os contos de fadas e os mitos seriam como os sonhos de uma cultura inteira, brotando desse inconsciente coletivo. Os mesmos tipos de personagem parecem ocorrer, tanto na escala pessoal como na coletiva. Os arquétipos são impressionantemente constantes através dos tempos e das mais variadas culturas, nos sonhos e nas personalidades dos indivíduos, assim como na imaginão mítica do mundo inteiro.


O mitólogo Joseph Campbell falava dos arquétipos como se fossem um fenômeno biológico, expressões dos órgãos de um corpo, parte da constituição de todo ser humano e de sua vivência. A universalidade desses padrões é que possibilita compartir a experiência de contar, ouvir e viver hisrias. Um narrador escolhinstintivamente  personagens e relações que dão ressonância à energia dos arquétipos para criar experiências dramáticas reconhecíveis por todos. Tomar consciência dos arquétipos só pode aumentar nosso domínio do ofício dramatúrgico e conseqüentemente do ator. 


Mas vale ressaltar que os arquétipos não são papéis fixos que, uma vez definidos não sofrem mutações ou não transitam na história. São sim na verdade funções que eles desempenham temporariamente para obter certos efeitos no enredo. Olhando assim, como funções flexíveis de um personagem e não como tipos rígidos e/ou mesmo estereotipados de personagem, é possível liberar a narrativa e a dramaturgia. Isso pode explicar como um personagem numa história pode manifestar qualidades de mais de um arquétipo. Pode-se, portanto, pensar nos arquétipos como máscaras, usadas temporariamente pelos personagens à medida que são necessárias para o avanço da história. Assim um personagem pode entrar na história fazendo o papel do arquétipo do arauto da aventura, depois trocar a máscara e funcionar como um bufão ou pícaro, trazendo a crítica ou o riso, ou um mentor para empurrar o protagonista para a aventura ou uma sombra para tentar destruí-lo.


Outra maneira de encarar os arquétipos clássicos é vê-los como facetas da personalidade do protagonista, do herói. Os outros personagens emanam possibilidades para esse herói- boas ou más. Às vezes um protagonista percorrer uma história reunindo e incorporando a energia e os traços de outros personagens. Aprende com eles, de forma direta ou indireta e vai fundindo tudo até chegar a ser um ser humano completo, que pegou algo de cada um que foi encontrando pelo caminho.


Os arquétipos também podem por fim ser visto como símbolos personificados das várias qualidades humanas. Como as cartas dos arcanos maiores do tarôt, simbolizam os diferentes aspectos de uma personalidade humana completa. Toda boa história é uma viagem para outro mundo a partir do mundo e da história humana total, da condição humana universal de nascer neste mundo, crescer, aprender, lutar para se tornar um indivíduo, se sacrificar pela coletividade ou por um ideal maior e morrer para poder renascer de outra forma. Os mitos trazem essa característica que emprestam para qualquer história na sua criação: A possibilidade de poderem ser percebidos como metáforas da situação humana em geral, com personagens que incorporam qualidades universais arquetípicas, que convidam para o dialogo para serem vivenciados e até compreendidos para o grupo, assim como para o individuo. E os mitos são esse campo onde giram esses arquétipos, como referências que ressoam o que é absolutamente transcendente à experiência humana.