Desço no sentido contrário ao dos carros da minha moradia de concreto. Falo da Rua República do Peru, que segue até a Toneleros. Vou para o outro lado. Sou imediatamente bombardeado por sensações: nos pés, primeiro o solo duro de pedra portuguesa, depois é macio, até ficar úmido; no corpo, a maresia e luz intensa preparam-me como a um peixe assado; já o som que ouço é aquele mesmo de quando aproximamos uma concha aos ouvidos e fechamos os olhos. E me deparo então com a doce verdade: estou no meu resort gratuito, meu oásis pessoal. Estou, por fim, em casa. Sigo nesse estado sinestésico de Posto em Posto até a sede do Marimbás. Chego a ensaiar uma ida ao Arpoador, mas não me arrisco a tanto. Retorno ao que me é certo e conhecido. Contemplo tudo a minha volta, sou aquilo todo, de uma só vez. De repente, meu olhar é capturado pelo vôo livre e distraído de uma gaivota. Sou como ela, na eminência do mergulho, beirando o abismo, donde tiro meu alimento para poder voltar a voar. E sobreviver a mais um verão.
“Praia de Copacabana” sem 51 clichês
Rio, 10 de Janeiro de 2007
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