"Tentei ficar quieto, mas não me aguentei.
Sou de uma família tradicional e de classe média alta brasileira, e fui o único a votar na Dilma.
Nos últimos anos tive o privilégio de morar por 2 anos em Estocolmo,
trabalhando e estudando. E digo o que pouca gente imagina: na maior
parte da Suécia não existe luxo.
Eu morei num prédio onde moravam médicos, lixeiros, músicos, advogados,
e atendentes de super mercado. Juntos. Eu vi pessoas muito ricas
andando de bicicleta no inverno, e aproveitando a vida comendo sanduíche
sentado no chão de um parque (não num shopping). Donos de agências que
atendem Pepsi, NBA, RedBull almoçando comida feita em casa num
tupperware sentados na mesma mesa que eu que era imigrante e o
Estagiário Assistente de Escritório.
Eu vi meninas como essas
da foto andando sozinhas às 3h da manhã em áreas vazias, olhando o mapa
no iphone usando shortinho meia bunda e regatinha que mostra o lado do
peito ouvindo a música nova da Lykke Li no último volume e cantando. E
passaram do meu lado na mesma calçada sem nem atravessar a rua. Sem
medo.
Sem.
Medo.
Tudo isso, que nós brasileiros
invejamos tanto e dizemos que ‘lá fora é muito melhor’ só se consegue
com uma coisa: igualdade social.
A Suécia não chega a ter 10 milhões de pessoas, e a igualdade lá vem sendo praticada desde o início.
O Brasil tem 200 milhões e a desigualdade aqui vem sendo praticada desde o primeiro instante. O que isso implica?
Implica que se você, pessoa que gosta tanto da Europa, quer que o
Brasil fique um pouco mais parecido com lá, abraçar a causa da igualdade
social é uma necessidade. E ela pode acontecer de duas formas: rápido
ou devagar.
Rápido está fora de questão, mas devagar é sim
possível. Eu pergunto: Qual é o problema se o país precisa crescer 1% ao
invés de 6% para que o Brasil saia do mapa mundial da fome? Ou para que
o analfabetismo acabe? Ou o saneamento básico?
Você se preocupa
mais com o quanto cai na sua conta do que com quantas pessoas conseguem
comer, escrever o próprio nome ou defecar em um lugar decente?
Crescimento de economia é uma coisa, é cálculo do PIB que soma em
valores monetários todos os bens e serviços finais produzidos no País.
Já o IDH mede expectativa de vida, analfabetismo, educação, padrão e
qualidade de vida e entre outras coisas também o PIB per Capita.
‘O país tem que voltar a crescer’, foi slogan de uns e é opinião de todos, mas o que é ‘crescer’?
Crescer é PIB para poucos como sempre foi no Brasil?
Ou crescer é IDH, com PIB mais distribuído para todos?
O Brasil não tem meios de gerar mais dinheiro do que o que já circula
dentro dele (seria lastro para controle) ou seja, a riqueza que existe
dentro do Brasil precisa sim ser melhor distribuída para que você possa
ter aqui, aonde suas netas e netos irão nascer, uma qualidade de vida
mais parecida com a da Europa. Sem medo.
Sem.
Medo.
Mas como dinheiro não cresce em árvore, pra que isso aconteça, tem que mexer no que é teu.
Só que quando alguém fala em mexer no que é teu, ninguém mais quer
igualdade social, e todo esse papo vai por água a baixo. Certo?
Certo.
Amigo, a verdade é: egoísmo não combina com igualdade social. Ninguém
gosta de dividir as duas últimas preciosas bolachas favoritas.
Se você quer ser egoísta, ao menos seja sincero e diga que está pouco se
fodendo para os humanos aqui do Brasil do sul ou do norte que torcem
junto contigo pro Neymar Jr.
na Copa do Mundo. Que tanto faz se eles sabem ler, escrever ou tem o
que pôr na barriga. Então faça sua trouxinha de dólares e ajude a
sustentar alguma ONG que ajuda algum 'vagabundo' na África. Não vou te
julgar ou tentar te convencer. Mas é isso o que penso."
Gregory Zancanaro Carniel
30 de outubro de 2014
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